Capítulo 4

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"Não lamento nada.
Aceito tudo.
É o único modo que encontrei de continuar vivendo nesse corpo maltratado.
Esvazio minha mente das coisas que me infestam e sobrecarregam a minha alma, e aceito o que puder nos pequenos prazeres que aparecem à minha frente.
Não sei o que é ter uma vida normal."
Destrua-me – Tahereh Mafi

Comprimo meus olhos com força e solto um longo suspiro. Meu melhor amigo me encara com a sobrancelha arqueada.

— Que foi?

— Nada. Só estou com dor de cabeça – massageio as têmporas, tentando me livrar da pressão do sangue contra minha meninge.

— Ah, mas então temos um ótimo remédio para isso. – Gabriel se intromete, chegando com um sorriso malicioso no rosto e eu reviro os olhos.

Sei que eles vão começar a falar de garotas. É o único assunto que eles têm falado nos últimos dias. E eu ainda tenho que lidar com isso como se não me afetasse em nada. Mas me afeta, porque eles sempre dão um jeito de me colocar no meio da história. É sempre o mesmo papo de que preciso mostrar que superei, de que preciso arrumar uma garota e mais um monte de coisas.

Só que está muito difícil para mim, pois ainda não superei o que aconteceu e é complicado demais mostrar aos outros uma realidade distorcida. Não, eu não estou bem. E não quero ter que me envolver com garota alguma só para provar o que digo. É impossível provar mentiras.

— Já vou logo avisando que a Juliane não valeu. Você precisa tentar com outra garota – é a vez de Luís Henrique se intrometer, enquanto arrasta sua cadeira até minha mesa.

— Ah não. Não, não, não, não – balanço a cabeça. – Não mesmo! Não vou ficar dando em cima de um monte de garotas. Já basta vocês terem me desafiado a chamar uma garota comprometida para sair. Eu só flerto e isso já é demais. Não é porque eu sou lindo, que tenho que arrasar o coração de todo mundo, né?

— Dá até nervoso de te ouvir. Você só sabe falar "não"! – O goleiro do time fecha os olhos com força enquanto mexe a cabeça. – Não é dar em cima. Você só precisa relembrar as boas maneiras e mostrar pra gente que colocou o passado no seu devido lugar. E nem precisa conquistar ninguém. Só ir mais além do flerte. Se é que você me entende. Chega dessa ideia de aposentadoria, você é muito novo para isso. Sem falar que não aguento mais essas meninas me perguntando por que o capitãozinho não beija mais ninguém.

Inspiro e expiro lentamente, juntando todas as forças que não tenho, para debater com ele sobre o mesmo assunto de sempre. Eles me deixaram quieto durante um ano e meio. Por que voltar com esse assunto agora?

— Eu não estou nem aí se elas perguntam ou não. Já disse que me aposentei dessa profissão de conquistador e é isso – esboço um sorriso convencido. – Sei que vocês não conseguem cobrir a falta que faço, mas vão ter que dar um jeito – dou de ombros.

— Olha só, Goulart... – Gabriel me encara – A gente se preocupa contigo, cara. Não queremos te ver paradão, sofrendo por uma garota do passado e se esquecendo de aproveitar a vida. Tem um montão de garota te querendo e você fica aí, de manha.

Sei que eles ainda não se acostumaram com o novo João Pedro Goulart, mas uma hora eles terão que entender que eu mudei.

Quando eu era mais novo, era meio popular na escola. As pessoas me amavam e um monte de meninas ficavam em cima de mim. Eu ficava com quem eu quisesse, saía com quem quisesse e fazia o que quisesse. Mas depois que aquilo aconteceu na minha vida, não consegui me aproximar de outra garota novamente. Agora, continuo com a minha popularidade, continuo falando com todos, sendo convidado por todas as pessoas para tudo, mas não consigo ficar com mais nenhuma outra garota.

A Vida é Feita de EscolhasOnde histórias criam vida. Descubra agora