Capítulo 7

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"Criei a reputação de ser alguém frio, um monstro que não teme nada nem ninguém.
Mas tudo isso é ilusório.
Porque a verdade é que não passo de um covarde."
Destrua—me – Tahereh Mafi

Passei a noite em claro. Meus olhos se fecharam assim que o brilho do sol atravessou as cortinas do meu quarto, mostrando-me que até em dormir eu tinha falhado. Mas tudo isso, eu sabia, foi porque, mais uma vez, eu não estava nada bem. Uma coisa é sofrer com a dor diária, que dá para esquecer momentaneamente e sorrir, zoar, brincar, e fingir que ela não existe; outra coisa é sentir a dor que existe dentro de mim se intensificar de repente e esmagar meu peito, tirando-me todo o ar, me torturando e aparecendo apenas para me mostrar que sou fraco e que não posso contra ela. Quando isso acontece posso dizer que não estou bem de verdade.

Depois do desastre que foi aquele jogo, ainda levei um fora da Fernanda. Ela disse que não saía com estranhos e, por mais que eu tenha insistido e me apresentado, falou que, enquanto não me conhecesse de verdade e não soubesse se eu tinha caráter, não sairia comigo. Ou seja, não consegui nada com ela, e quando voltei aos meus amigos, eles disseram que imaginaram que isso fosse acontecer, mas que era para eu insistir, pois "ela é assim mesmo". Fiquei um pouco irritado, porque eles já sabiam que ela não aceitaria, mas mesmo assim, insistiram para que eu fosse até ela. No entanto, ainda que eu tenha ficado chateado, tudo estava indo bem para mim. As coisas pioraram depois.

Como sempre, Lucas e eu voltaríamos andando, porém, de repente, enquanto conversávamos na saída do campo, a dor voltou. Meu coração acelerou do nada e, como com um golpe, minha mente me atacou e me trouxe de volta as piores memórias que tenho guardadas. Naquele momento, a pressão em meu peito voltou a crescer e a tirar todo o oxigênio dos meus pulmões. Tentei respirar fundo várias vezes, mas não estava adiantando. Minha mão voltou a suar e meus olhos se encheram de lágrimas. Eu não podia deixar que eles me vissem assim, mas também não tinha para onde fugir.

Queria sumir, sair correndo e tentar aliviar a pressão que crescia cada vez mais dentro de mim. Olhei o símbolo do infinito desenhado em meu pulso e comecei a contar os números mentalmente, tentando regular minha respiração, que começou a ficar mais rápida ao tentar preencher o vazio em meus pulmões, mas não funcionou. Então, antes que meus amigos suspeitassem de alguma coisa, dei a desculpa de que precisava passar na casa de uma cliente do meu pai para buscar algo e que precisava correr antes que fosse tarde demais. Eles não entenderam muito, mas não fiquei para ouvir os argumentos e logo me afastei, apressando o passo. Ao olhar para trás e não ver mais ninguém, comecei a correr. Corri sem saber para onde estava indo, sem saber o que me esperava, somente aguardando ansiosamente que a dor no meu peito diminuísse, que o sufoco acabasse e que a minha mente esvaziasse. Desejei que tudo fosse um sonho, mas a realidade estava diante de mim. A minha dor, o meu sofrimento, a minha triste e odiosa vida, tudo real.

Parei assim que meus pés cansaram e, ao olhar ao redor, percebi o quão longe tinha ido. Saquei meu celular no bolso da bermuda, coloquei-o no modo avião, pus os fones, apertei o play e voltei para casa, desta vez andando.

Minha respiração já estava controlada. Minha mente não estava mais dominando meu corpo e saqueando minha alma. O terror já tinha passado e só o que eu precisava naquele momento era manter-me calmo. A música me ajudaria.

Olhei novamente para o símbolo do infinito, desenhado por mim, diariamente, em meu pulso, e respirei fundo. Estava tudo bem. Eu não precisava me decepcionar por não ficar bem mesmo depois de contar mil respirações, os números eram infinitos. Mas não queria precisar repetir aquilo para mim. Não queria me deitar todas as noites pensando que venci mais um dia e acordar cada manhã repetindo a mim mesmo: "só mais um".

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