Capítulo 6

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"Cracks won't fix and thescars won't fade away
Guess I should get used to this"
Always – Gavin James

Ainda é quinta-feira, o que significa que tenho muitos dias de sofrimento pela frente. A única coisa boa é que, pelo menos, tenho o futebol para me distrair. Se bem que não vale tão a pena dizer que jogar futebol é algo bom, quando as pessoas que aparecem para jogar só atrapalham.

Marcamos de jogar num campo perto de casa e, até pouco tempo atrás, o jogo estava tranqüilo, já que era para ser uma simples pelada. Mas alguns garotos que moram por perto pediram para jogar e acabaram com tudo.

A começar que um deles trouxe um apito e quis dar uma de árbitro, apitando faltas, marcando escanteio, gol impedido, cartões amarelo e vermelho e mais um monte de coisa. Um moleque de meio metro que acha ter moral o suficiente para mandar em tudo e todos. E se isso já não fosse o bastante para nos fazer sofrer, o Guilherme (um garoto gente boa que volta e meia joga com a gente) levou seu primo Augusto, que cismou que precisava ficar no gol. De início, aceitamos. Pela cara dele dava para ver que ele não defendia nada, e isso pareceu ser uma grande vantagem, até começarmos a golear excessivamente e o Guilherme ficar irritado e dizer que "não valeu".

Até eu, que não fico irritado tão facilmente, me irritei. E porque fui reclamar, levei um cartão amarelo do "árbitro" (o primeiro, porque depois eu derrubei um garoto sem querer e levei o segundo, sendo obrigado a sair do jogo). Só queria saber de onde foi que eles tiraram tanta burocracia. Alguém precisa, urgentemente, explicar—lhes que uma partida de futebol é totalmente diferente de um jogo de rua.

— Eu vou quebrar aquele moleque! – nosso goleiro espirra água na boca e depois cospe no chão, assim que terminamos o jogo.

— Eu apoio – Kevin dá de ombros, se sentando ao meu lado na arquibancada improvisada de cimento que fica ao redor do campo.

— Não, você vai ficar aqui. Bem comportado – digo, sério.

O treinador Marcelo nos disse que não queria ouvir qualquer murmúrio de confusão que envolva qualquer um do time de futebol da escola, caso contrário, seremos desclassificados do Campeonato Interescolar. Então, se o Gabriel fizer alguma besteira aqui e isso chegar aos ouvidos do treinador, estamos ferrados. Melhor não arriscar.

— Bem comportado? O que é que deu na cabeça daquele idiota do Guilherme pra trazer o imbecil do primo dele?! – diz, olhando furiosamente na direção dos outros garotos, que conversam em uma parte do campo. – E aquele outro, achando que é árbitro? Ninguém contou pra ele que ele não está sonhando, não?!

Enquanto Kevin ri e comenta do vacilo dos outros garotos, Gabriel seca o suor com a própria camisa e eu observo o Lucas vir até nós com um enorme sorriso no rosto.

— Ela veio! – só falta pular de alegria.

Quem veio? Ninguém aqui tem bola de cristal, não! – o irritado se apressa em dizer.

— A Vitória! Eu pensei que ela não viria, mas veio! E ainda trouxe a Fernanda com ela! – esfrega as mãos animadamente.

Para fazê-lo sorrir assim, só ela mesmo.

— Até que enfim uma notícia boa! – Kevin diz, empolgado. – Se a Fernanda está aí, quer dizer que é a chance do João Pedro!

O quê? Olho para o lado, para a entrada do campo, de onde o Lucas veio e reconheço um rosto bonito. O rosto que eu menos desejava ver. O rosto que eu preferiria nem conhecer. É ela. É aquela garota.

Era só o que faltava.

— Vai logo falar com ela, Goulart! – Gabriel incentiva, empurrando meu ombro. – E você, Lucas, vai atrás para apresentá-lo. Vão como se não quisessem nada; depois o Lucas sai e o João Pedro fica conversando com ela. – planeja, animado.

A Vida é Feita de EscolhasOnde histórias criam vida. Descubra agora