"Você pode fechar os olhos para as coisas que não
quer ver, mas não pode fechar o coração para
as coisas que não quer sentir."
— AnônimoA semana passou tão rápido quanto a velocidade da luz e logo chegou sábado, o dia que marquei de visitar a igreja da Fernanda. Depois que falei com ela sobre a visita em sua igreja, não a vi mais, de modo que precisei conversar com o Lucas — que, descobri, é da mesma igreja que ela — para decidir a data e ver o endereço. Se dei minha palavra, cumpriria.
Não estava nem um pouco animado para ir, mas quando comentei sobre isso com meus amigos, eles disseram que eu tinha feito uma ótima jogada, pois, se eu quisesse mesmo me aproximar da Fernanda, teria que saber de Deus, afinal, segundo eles, ela gostava muito de tudo relacionado a Ele.
Por um lado isso foi bom, porque fez com que eles vissem que ainda consigo me aproximar facilmente das garotas, mas por outro foi ruim, porque ao invés de passar o sábado jogando videogame, terei que passar a noite na igreja, fazendo sei lá o quê que se faz em uma igreja.
Sei que meus avós — maternos e paternos — são cristãos, que o Lucas e sua família também e que meu pai e minha mãe já foram, mas eu, João Pedro de Souza Goulart, nunca fui em nenhuma. Talvez tenha ido quando ainda era um bebê, mas depois que completei seis anos de idade — e fazem onze anos e alguns meses desde este dia — nunca mais entrei pelas portas de um templo.
Olho meu reflexo no espelho para ver se falta alguma coisa. Coloquei uma blusa preta de malha, calça preta e meu tênis branco, como sempre. Penteio o cabelo com os dedos mesmo, já que o pente o deixa arrumado demais e o gel, ou creme, o deixa duro, sem movimento nenhum. Em seguida, pego a carteira na mesa do computador e meu relógio. Depois de borrifar o perfume, saio do meu quarto e ando em direção ao dos meus pais.
— Mas é muito lindo esse meu filho. — Minha mãe me encara pelo espelho, enquanto ajeita seu colar.
— Teve a quem puxar, né? — Meu pai sorri confiante.
— Obrigado, mãe — sorrio. — É... então eu já vou. O tio Tiago vai nos levar — falo e eles assentem.
Quando contei que iria a uma reunião na igreja do Lucas, eles ficaram surpresos, me perguntando se fui obrigado a ir, se aconteceu alguma coisa e mais um monte de coisa. Mas foi só eu dizer que estava indo porque queria — o que não era uma completa verdade — que eles ficaram contentes.
— E aliás, João Pedro... Como está o Lucas? — minha mãe deixa de olhar o espelho que é mesclado à porta de correr de seu guarda roupa e se vira para me olhar.
— O Tiago falou que ele está fazendo tratamento... É tuberculose pleural, né? — meu pai me olha, preocupado, como se eu tivesse todas as respostas sobre a vida do Lucas.
A verdade é que depois daquele dia, tentei fazer o possível para não pensar no que estava acontecendo com ele. Não queria pensar que meu melhor amigo estava com uma doença perigosa, que poderia matá-lo; e muito menos pensar que esta doença poderia agravar devido aos litros de bebida alcoólica que ele ingeriu naquela festa — fora o cigarro. Fiz de tudo para não lembrar disso quando o via, principalmente porque, depois de me falar que eu estava sendo como um peso em suas costas por prezar por sua saúde, ele chegou até mim, no dia seguinte, como se nada tivesse acontecido.
Se o próprio Lucas queria agir como se estivesse cem por cento saudável e não tivesse falado nada para mim, quem sou eu para fazer o contrário.
Parte de mim ainda se culpa por ter deixado ele se embebedar, mas a outra parte me lembra que isso não tem nada a ver comigo e que preciso parar de me preocupar tanto com as pessoas a ponto de fazer com que elas se sintam sufocadas. Já faço muita besteira, já magôo muito as pessoas, não tem porque arrumar mais um meio de incomodá-las.
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A Vida é Feita de Escolhas
Teen Fiction⚽️ Sinopse: João Pedro Goulart tem 17 anos e é capitão do time de futebol da escola, além de ser o queridinho de todos. Ele vive uma vida perfeita e feliz (pelo menos, é o que todo mundo pensa). Apesar de sorrir diante de todos e agir como se tudo e...