“Yeah I say I love em but I know I treat em so wrong”
Fly Away — LecraeEu não fazia ideia de que, durante todo esse tempo, fui como um fardo para o Lucas. Já sabia que tinha o dom de acabar com a vida das pessoas, mas não imaginava que estava sendo um peso até mesmo para o meu melhor amigo.
“João Pedro, pelo menos uma vez na vida, me deixa em paz”
“Você não tem que ficar me controlando”...
Eu não queria... Não queria controlá-lo, eu só... Não queria que ele se desse mal, que se machucasse como eu me machuquei, que alguma coisa lhe acontecesse... Não queria perdê-lo como perdi a...
Paro de correr, dando alguns segundos para que meus pulmões se estabilizem. Olho em volta, percebendo o quão longe estou de casa, mas não me importo, não quero chegar lá nem tão cedo.
Seguro a barra da camisa e a levo até o rosto, secando o suor. Em seguida, passo a mão por meus cabelos úmidos. Solto um longo suspiro e me preparo para continuar a corrida. Mas meu peito começa a doer e as lágrimas cobrem meus olhos.
Vejo uma praça vazia, provavelmente devido ao tempo desmotivador e escuro, indicando que choverá. Ando até lá a passos lentos, buscando somente esvaziar a minha mente.
Sento em um banco de madeira qualquer e apoio meus cotovelos nos joelhos. Limpo meus olhos, mas não consigo segurar o choro por muito tempo. Logo ele vem e inunda meu rosto.
Não consigo entender porque sou assim. Não consigo entender por que machuco tanto as pessoas, por que sou um fardo para todos ao meu redor... Eu não... Não entendo como me tornei a pessoa que sou hoje, que só comete erros. Só queria ser diferente, só queria acertar nas minhas escolhas e ações... Só queria... ser uma pessoa boa e acertar pelo menos uma vez, mas até mesmo tentando proteger meus amigos eu falho.
Sou um peso para todos ao meu redor. Eu sou um erro, a minha vida é um erro, e não tem como negar isso.
Eu só não queria ser assim.Mas não tem como mudar. Apenas preciso me acostumar com isso.
Olho para o símbolo do infinito desenhado em meu pulso e começo a contar minha respiração. Limpo meu rosto, ajeito a postura, passo a mão pelos meus cabelos, penteando-os com os dedos e me levanto.1, 2, 3...
É apenas mais um dia como todos os outros. Vou vencê-lo como venho fazendo há anos. Eu consigo.
Fecho os olhos e inspiro fundo.
Não entendo porque a ideia de ser um peso para as pessoas ao meu redor ainda me machuca tanto. Já devia ter me acostumado com isso.Pego os fones de ouvido no bolso da bermuda, conecto no meu celular e, em seguida, ponho-os no ouvido. Fly Away, do Lecrae, começa a tocar e volto a correr. Desta vez, sem fugir, apenas tentando fazer com que meu corpo produza a serotonina e eu me sinta melhor.
Observo, há alguns metros a frente, uma garota. Seus cabelos negros na altura dos ombros e sua baixa estatura me permitem reconhecê-la facilmente. Continuo correndo e mantenho meus olhos fixos em algum ponto aleatório, no final da rua, fazendo o possível para que ela não me reconheça.
Eu não quero voltar a fingir que estou bem. O único momento que posso ser quem sou, que posso sentir minhas emoções verdadeiras, é enquanto corro sozinho e livre pelas ruas. Se eu parar para cumprimentá-la, terei que colocar minha máscara de garoto feliz e voltar a fingir que minha vida é alegre e boa.
Passo por ela, sem olhar para o lado para ver se ela me viu. Apenas sigo o meu caminho até ouvir meu nome. Mas não paro para lhe dar a atenção que ela merece, apenas continuo a correr, até notar que estou no caminho errado, se quiser voltar para casa.
Dou meia volta, praguejando pela minha falta de atenção e começo a andar, voltando.
Passo pelo prédio de onde Fernanda estava saindo agradecendo mentalmente por ela não estar mais ali. Mas acabo encontrando-a metros à frente, do outro lado da rua. Por educação, paro para cumprimentá-la, embora minha mente me diga que eu deveria continuar meu caminho.
— Oi! – ela me cumprimenta com um sorriso feliz e aquele mesmo brilho nos olhos, um brilho que nunca terei.
Gostaria de me sentir feliz como ela, mas, infelizmente, isso é impossível para um cara como eu.— E aí? – forço um sorriso, atravessando a rua para ficar do seu lado. – Tudo bem?
Retiro o celular do bolso, dando pausa da música que estava tocando e o guardo novamente.
— Tudo ótimo, graças a Deus! – olha para o céu. Ela parece estar realmente alegre. – Estava se exercitando?
— Não, eu... só estava correndo – observo minha camisa molhada de suor. – Por que? Está a fim de ganhar um abraço suado? – me aproximo e ela se afasta.
— Nem vem! Eu acabei de tomar banho e estou limpa e cheirosa! – se defende, com as mãos espalmadas à frente do corpo.
Solto uma risada.
— E você toma banho? — implico e ela me encara com os olhos semicerrados.
— Engraçadinho, você. — Me empurra com o ombro. — É claro que eu tomo banho, ou você acha que sou que nem você?
— Ah, então você está dizendo que eu não tomo banho? — um sorriso desponta em meu rosto.
— Estou. Pela sua cara, você só toma banho dia de sábado e olhe lá — sorri. — Mas e aí, como você está? — para de andar e me analisa, como se estivesse preocupada comigo.
Fito seus olhos que são tão escuros quando a noite. Ela não parece estar brincando, nem falando da boca para fora como a maioria das pessoas que me perguntam se estou bem. Ela parece querer saber a verdade, como se pudesse me ajudar, caso minha resposta não fosse positiva.
Mas sei que não pode. Sei que ela deve agir como todas as outras pessoas, que só perguntam por educação.
— É... Tô indo — solto.
Não era para eu ter dito isso! Era para ter falado que estou bem, como sempre faço.
— Muita pressão? — continua a me olhar, enquanto andamos.
— Não, não... apenas coisas da vida – dou de ombros.
— Sei como é. — ela solta um suspiro, passando a sacola que estava segurando, para a outra mão.
— Está pesada? Quer ajuda? — ofereço, mas ela recusa.
Insisto em ajudá-la, mas a garota recusa novamente.
— Eu já falei que quero te ajudar. Tem como você amolecer esse coração de pedra e me deixar pegar esta sacola?
— Tá bom! Mas só porque eu não tenho nenhum coração de pedra. — cruza os braços, fazendo bico, como uma criança pequena.
Acabo soltando uma risada, enquanto analiso-a.
A Fernanda parece ser uma boa garota... Seu olhar e seu sorriso deduzem a vida feliz que ela deve viver. E posso acabar estragando isso.
Lembro-me do Luís Henrique e do Gabriel, que insistem em dizer que preciso conquistá-la para mostrar que superei o meu passado. Mas se eu fizer isso, posso magoá-la. Não quero magoar mais ninguém. Não quero continuar sendo uma pessoa ruim assim.
Eu preciso me afastar dela... Preciso terminar esta conversa e dar um jeito de acabar com isso. Não me aproximei tentando conquistá-la como das outras vezes, mas... se eu permanecer aqui, sei que vamos acabar nos aproximando mais e... isso não vai acabar bem...
— Fernanda, eu...
Paro de falar quando um carro preto para ao nosso lado.
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A Vida é Feita de Escolhas
Teen Fiction⚽️ Sinopse: João Pedro Goulart tem 17 anos e é capitão do time de futebol da escola, além de ser o queridinho de todos. Ele vive uma vida perfeita e feliz (pelo menos, é o que todo mundo pensa). Apesar de sorrir diante de todos e agir como se tudo e...