Capítulo 29

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"Quem dera eu tivesse asas como a pomba;
voaria para longe e encontraria descanso."
Salmos 55:6

Quando chegamos ao campo de futebol, encontramos grande parte do grupo jovem ali, nos recebendo com bastante animação. Depois de cumprimentar todo mundo, a Fernanda foi falar com a Lorena, que descobri que é sua parenta — acho que filha da tia de sua mãe — e fiquei conversando com uns garotos, até eles irem resolver sobre o lanche com o Felipe, me deixando sozinho conversando com o Lucas e a Vitória.

Quando todo mundo chegou, começamos a jogar. Achamos que as meninas iriam se juntar a nós, mas elas não quiseram, então jogamos umas duas partidas sozinhos. Quando paramos por alguns minutos para descansar e beber água, as garotas saíram, do nada, como formigas do vestiário feminino. Todas vestidas com camisas verdes e duas listras, da mesma cor, pintada em cada bochecha. Foi apenas uma questão de segundos até elas ocuparem grande parte do campo.

— Eu já estava achando estranho mesmo. Geral votou em futebol para chegar aqui e ninguém jogar? Isso estava muito esquisito, mas agora eu entendi que foi tudo tramado. — Ben 10 diz.

— Tava na cara que, em alguma hora elas iriam fazer alguma coisa, né, Zé Bendito – Gabriel diz como se fosse óbvio e o garoto responde com a frase que ele mais fala: "eu não sou Zé Bendito".

Assim que cheguei aqui e ouvi o pessoal chamando este garoto de "Ben 10", estranhei, mas assim que ele veio me cumprimentar percebi o quanto ele era parecido com o protagonista do desenho Ben 10 e achei o apelido justo. Depois ouvi seu outro apelido, "Zé Benedito", que, de início, não entendi e precisei perguntar o porquê deste, recebendo a justificativa de que o nome dele é Benjamin Benedito. Pelo que percebi, ele é o garoto mais zoado de todos. Sorte que ele não liga.

— Vamos?! Vocês não vão jogar não? — A garota que me encarava há pouco tempo para em nossa frente com a mão na cintura e a testa franzida.

— É! São vocês contra a gente! — uma outra menina, que não sei o nome, diz.

— Tem certeza? A gente não quer ver vocês chorando, não... — Calopsita (apelido que a galera do grupo deu para o Gabriel) diz.

— O único que vai chorar aqui é você, Gabriel! – a garota que me encarava, e que, até então, eu achava que era tímida, diz, apontando o dedo indicador para ele.

As aparências enganam, não é mesmo?

Nos levantamos da arquibancada e andamos até o meio do campo, prontos para jogar com elas. Felipe chega ao lado de Fernanda e Lorena e pergunta:

— E aí? Vão fazer time misto ou vão separar?

— Amistoso! Vamos jogar um amistoso! — a irmã do Gabriel, Gabriela, grita, empolgada.

— Pelo amor de Deus. — Nosso goleiro leva a mão à testa — É irmã do melhor-jogador-de-futebol-não-profissional-do-mundo e ainda fala uma coisa dessas. É misto, Gabriela, não "amistoso". — Meu amigo balança a cabeça negativamente e a garota solta um "ah".

— Vai ser meninos contra meninas. — Lorena dá a ideia — Quero ver se eu ainda consigo dar uma caneta nesse daqui. — Aponta, com a cabeça, para o marido, enquanto sorri.

— "Caneta"... Você gosta é de chutar minha canela. — O líder do grupo ri.

Lucas tira "par ou ímpar" com Sofia, uma menina que joga futsal desde pequena, e escolhe o lado do campo. Nos posicionamos rapidamente, repetindo o esquema do jogo anterior, mas, ao invés de o Gabriel ficar no gol como sempre, o amigo da Fernanda fez birra que nem uma criança mimada só para ele ficar como goleiro porque joga vôlei e, segundo ele, sabe agarrar. A maioria foi contra, mas o Felipe pediu para darmos uma chance a ele, afinal, não era um futebol profissional, apenas uma descontração. Insatisfeito e murmurando xingamentos baixinhos contra o garoto, o Gabriel decidiu ficar como zagueiro.

A tia da limpeza que trabalha no campo assopra o apito e começamos a jogar. Sofia passa a bola para a Fernanda, que está quase cara a cara comigo e consigo marcá-la, esperando para roubar a bola.

— Então a Senhorita Alencar sabe jogar futebol – sorrio para ela, que me olha de esguelha e logo passa a bola para outra menina.

— Quer me distrair, Goulart? — alterna o olhar entre a bola e eu enquanto anda pelo campo, me fazendo segui-la.

— Longe de mim fazer uma coisa dessas — respondo ainda olhando para a pequena esfera que ainda circula pelos pés femininos.

Assim que a Lorena repassa a bola para a Fernanda, entro na sua frente e roubo sua chance de jogar, lançando uma piscadinha para ela, que revira os olhos.

Corro para dentro do campo delas e procuro alguém para fazer um toque.

— Você quer roubar a minha vez, é? — Fernanda diz atrás de mim, enquanto tenta me marcar.

— Quem sabe...

Sofia consegue recuperar o domínio da bola, mas assim que toca para a Gabriela, ela se distrai e o Ben 10 consegue chutar para mim.

Driblando algumas pessoas chego perto do gol, mas a menina que gosta de mim me surpreende, aparecendo por trás de mim e chutando a bola para longe do meu pé.

Lucas recupera o domínio, chutando, em seguida, para mim, que pisco para a garota e chuto na rede, marcando um gol.

Comemoro com os garotos enquanto as meninas nos encaram furiosas. Voltamos então à posição inicial e volto a ficar frente a frente com a Fernanda.

— Gostou do meu gol? Foi pra você.

— Primeiro você rouba a bola de mim e depois diz que fez gol para mim? — me olha com as sobrancelhas arqueadas. — Obrigada, mas não vou aceitar. — Se afasta, indo para mais perto da menina que tem o domínio da bola.

— Ficou irritadinha? — provoco, fazendo-a se virar para me olhar.

A garota me fuzila com os olhos antes de me fazer rir ao mostrar a língua.

A pequena esfera preta e branca chega aos seus pés. Ela toca para a Sofia e corre para dentro de nossa área, atenta a cada jogada. Felipe consegue recuperar a bola, mas pouco depois, Lorena toma dele e chuta para outra menina, que passa para a Fernanda.

— Agora eu vou fazer um gol — diz, praticamente para si mesma, concentrada em seus próprios movimentos.

Gabriel tenta atrapalhar, mas logo ela chuta em direção à trave e a bola entra, graças à função de estátua que o Vinícius assumiu.

As meninas gritam e pulam em volta da Fernanda, enquanto o Sukita se controla para não partir para cima do atual goleiro.

— Por que você não defendeu? — pergunto a ele, intrigado e ele me ignora, saindo do gol e indo até a Fernanda com um enorme sorriso no rosto.

— Esse moleque tem problema?! — Gabriel arregala os olhos.

Eu sei que ele é amigo dela, mas o dever dele é defender o gol. A Fernanda fez uma jogada incrível para quem não joga futebol. Ela faria um gol perfeito, mas a idiotice daquele garoto fez com que a jogada fosse como qualquer outra, já que ele não fez nenhuma questão de defender.

O casal de amigos se abraça e ele diz que está orgulhoso dela.

Que garoto idiota.

A Vida é Feita de EscolhasOnde histórias criam vida. Descubra agora