Capítulo 28

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"As pessoas choram, não porque são fracas.
E sim porque têm sido fortes por muito tempo."
Johny Depp

Se o segurança do mercado não fosse cliente do meu pai e não conhecesse minha família, tenho certeza absoluta de que eu seria considerado um suspeito, já que fazem mais de vinte minutos que estou parado como uma planta do lado de fora da loja.

O Lucas apareceu lá em casa e me obrigou — com a ajuda dos meus pais — a vir para esse tal jogo marcado pelo pessoal da igreja. Eu tinha dito ontem que iria, mas depois perdi todo o ânimo e decidi passar a noite jogando videogame, o que não consegui. Se não bastasse isso, depois de me apressar tanto, o meu amigo ainda inventou de passar no mercado para comprar refrigerantes, pois disse que o pessoal só estava levando suco e que a graça de todas as festas é o refrigerante. Até aí, estava tudo bem, pois não me incomodaria de parar no mercado, o problema foi quando o Lucas disse que eu não precisava entrar com ele, pois voltaria em apenas alguns segundos. E agora fazem exatos vinte e três minutos desde a hora em que ele entrou por aquelas portas, me deixando como um poste do lado de fora.

Estou tanto tempo aqui que já vejo a hora de me juntar aos vasos de planta que enfeitam a entrada do estabelecimento. As pessoas chegam a me olhar torto quando saem e percebem que ainda estou no mesmo lugar de quando entraram.

Confiro, de novo, as horas no relógio em meu pulso e mando uma mensagem para o Lucas. Impaciente, vou para a calçada e observo a rua pouco movimentada. A brisa suave do vento bagunça ainda mais meus cabelos despenteados. Ajeito-os com a mão e volto a olhar para dentro do mercado. Como não vejo nenhum sinal do meu amigo, olho de novo para a rua, até que uma pessoa me chama a atenção.

Comprimo os olhos quando percebo que é uma garota que corre em uma velocidade consideravelmente alta. Seus cabelos negros e curtos balançam à medida que corre, me permitindo enxergar seu rosto e reconhecer quem é, apesar da distância entre nós.

As pernas da menina se movimentam sem parar e logo ela está próximo de mim. Seu rosto está um pouco vermelho e molhado, e não parece ser suor. Seus olhos bem comprimidos, quase se fechando, como se algo estivesse lhe causando dor.

Será que aconteceu alguma coisa? Por que a Fernanda está assim.

Espero que a garota se aproxime mais um pouco e perceba a minha presença para que eu possa falar com ela e saber o que aconteceu, mas assim que ela nota que há alguém em seu caminho – provavelmente não consegue ver que sou eu –, tenta se desviar. Seu ombro acaba esbarrando levemente no meu, mas a garota continua correndo, o que não é nada normal. Estranhando seu comportamento, estendo o braço e consigo segurar em sua mão, dando-lhe um leve susto. Fernanda se sobressalta e olha por cima dos ombros, tentando entender o que está acontecendo e, assim que me reconhece, seu rosto se suaviza.

Fito seus olhos, surpresos e desesperados, tentando entender o que está acontecendo. Ela não se move, não fala nada, mas uma lágrima pesada escorre por sua bochecha contra sua vontade. Suas mãos simplesmente continuam imóveis, não se esforçando para limpar o rosto.

Encurto a distância entre nós, entendendo do que ela precisa.

— Posso? — pergunto, me aproximando mais ainda.

A Fernanda não diz nada. Sequer olha para outra coisa a não ser os próprios pés. Quando percebo que não ouvirei sua voz, entendo que a resposta é sim. Dou mais um passo para me aproximar mais e passo meus braços em volta de seu corpo.

Seus ombros tensos relaxam, mas sua respiração continua acelerada. Ela soluça, soltando o choro que estava preso em sua garganta, e não ouso dizer nada.

A Vida é Feita de EscolhasOnde histórias criam vida. Descubra agora