Capítulo 5

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"I know the sorrow
I know the hurt"
Even If - MercyMe

Eu sabia muito bem que não seria bom se ficasse com a mente livre para pensar o que quisesse. Na verdade, seria péssimo porque minha mente se encheria de pensamentos indesejados e me deixariam pior do que já estou. Foi justamente por esse motivo - e também porque semana que vem tenho prova - que decidi estudar.

Fiquei três horas sem parar de ler, escrever e fazer exercícios. Senti cansaço, mas sabia que se eu parasse, a minha mente viraria um reprodutor de lembranças e acabaria com a minha estabilidade. Por isso, continuei lendo e revisando as matérias por mais duas horas, até o Lucas chegar no meu quarto e tirar toda a minha concentração. Não sou o tipo de pessoa que se distrai facilmente, mas além de entrar no meu quarto cantarolando, meu amigo pareceu ter batido a cabeça e ficado ruim das ideias, porque começou a bagunçar tudo - não que as coisas estivessem arrumadas, mas já tinha ajeitado tudo no domingo e toda a minha arrumação foi embora quando o Lucas chegou.

De início, fiquei meio irritado por ele me distrair, mas depois, me tranquilizei, pois sabia que precisava descansar minha mente por, pelo menos, alguns minutos.

- Tem como você parar de bagunçar minhas coisas? - Pergunto, relaxando o corpo na cadeira.

- Eu quero confirmar minhas hipóteses! - grita com a cabeça enfiada no guarda-roupa. - E, aliás, não tem como eu bagunçar o que já está bagunçado.

Reviro os olhos e volto a olhar para meu caderno. Tento continuar prestando atenção no que estava fazendo, mas, de repente, tudo para de fazer sentido.

- Larala, larala, lá-lá - cantarola e faço uma careta. - Não sei nem como vou achar alguma coisa aqui dentro. - Fala. Sua voz abafada por sua cabeça estar dentro do armário.

Realmente, meu guarda-roupa está uma zona. Nem eu sei como consigo encontrar alguma coisa ali. Minha mãe sempre reclama, mas já expliquei para ela que esse é um problema impossível de resolver, porque sempre que arrumo meu armário, na semana seguinte ele já está bagunçado. Ficar arrumando toda hora é cansativo.

- Achei!

Num rápido movimento de tentar tirar a cabeça de dentro da parte mais baixa do meu guarda roupas, ele a bate na madeira e faz uma careta engraçada. Começo a rir, mas paro quando ele me olha de cara feia.

- Ainda estou tentando entender o que você estava procurando - solto a caneta na mesa, dando impulso para a cadeira girar.

O garoto levanta, ajeita a postura e levanta o braço esquerdo, mostrando em sua mão um caderninho preto como se fosse um troféu.

Esse caderno... Para quê ele quer esse caderno?

- Isso!

- Pra quê você quer isso? - me levanto e pego o caderninho da sua mão.

Ele revirou meu armário inteiro para procurar esse caderno!

- Eu preciso disso. Quero confirmar minhas hipóteses.

- Você já falou isso. - volto para a cadeira e apoio o caderno preto na perna.

Meu amigo me olha, suspira, e em seguida diz:

- Me diga, João Pedro: como é estar apaixonado?

Pisco várias vezes. Eu entendi bem ou estou com problema de audição? Devo ter estudado tanto que as palavras estão se confundindo, ou estou ouvindo coisas ou algo do tipo, porque... O Lucas está me perguntando como é estar apaixonado? O Lucas? Isso é sério, mesmo?

- É o quê?

- Como é estar apaixonado...?

Tento fingir que o fato de ele estar me perguntando isso é totalmente normal.

A Vida é Feita de EscolhasOnde histórias criam vida. Descubra agora