As costas de Enid doíam toda as manhãs em que acordava no chão do quarto dos irmãos, mas nunca reclamava. Por ocupação cotidiana, visitava sua família apenas aos finais de semana —quando também não tinha que trabalhar ou reservar esse tempo para organizar o seu apartamento— então cedia a quase tudo que lhe era pedido pelos pequenos olhinhos brilhantes.
Inclusive, o sábado começou tão ensolarado que quase antes de dar bom dia eles pediram para que ela os acompanhasse em um banho de piscina.
— Depois do almoço! —Respondeu já que era por volta do meio dia então a refeição, minuciosamente preparada por seus pais, que não aceitavam ajuda, não demoraria para ficar pronta. Além disso, sabia que, caso fossem antes, eles custariam para querer sair e comer.
Felizmente, aceitaram apenas as três palavras. A justificativa ficou apenas em pensamento.
Antes que Enid pudesse sair da suíte em que supostamente estava ficando —e fora dito supostamente porque as crianças mal a deixavam pisar ali— após um bom banho, ouviu seu celular tocar em cima da cômoda lotada de adesivos —alguns descascando, outros que tentaram ser arrancados e alguns novos escondidos dos pais. Era uma ligação de Rowan, seu chefe. Por um segundo ela estranhou, o homem não costumava importuná-la aos finais de semana, para variar, mas atendeu:
— Bom dia, Sinclair. Pode falar? —Perguntou sem nem esperar um alô.
— Bom dia. Posso sim. O que aconteceu?
— Vai chegar um email pra você em alguns instantes com mais detalhes, se já não tiver chegado, mas queria te informar com o máximo de proximidade possível.
— Deveria me preocupar? —Questionou já sentando-se na beirada da cama.
— Não é nada surreal. Essas coisas acontecem! E vai ser temporário.
Ela imaginava sobre o que era.
— Prefiro que não use eufemismos quando o assunto é a minha ansiedade, por favor.
— Certo. Lá vai. Vamos ter que suspender as visitações.
Realmente, estava certa, porém de toda forma sentiu um calafrio de surpresa percorrer seu corpo como um choque.
— Por que, exatamente?
— Lembra que falei na última reunião sobre estarmos trocando de patrocinadores automotivos e que, possivelmente, teria um intervalo entre um contrato e outro?
— Você disse que as chances eram mínimas.
— Mas não inexistentes.
Ele tinha um ponto tanto quanto ela tinha esperanças.
— Olha, eu não me incomodo de usar um automóvel pessoal pra trabalhar. Os escritórios ficam próximos ao meu apartamento.
— Mas não são todos que tem essa disponibilidade e o setor inteiro vai entrar em mudança. Seria injusto poucos funcionários da mesma área ganharem comissão.
— Metade do meu salário por conta dessas visitas, Rowan. Você sabe que não é apenas um bônus pra mim. Principalmente agora.
— Eu sei, você é incrível no que faz, tá apertada no momento e vou fazer o possível pra acelerar esse processo, mas ele precisa acontecer.
A garota de olhos azuis suspirou. Seu salário fixo não era ruim, mas também não seria exatamente suficiente para as novas despesas as quais estava arcando.
— Quando isso entra em vigor?
— Essa semana. Deve perdurar até mês que vem.
Ainda era dia cinco. De repente, ficou frio.
— Okay. Agradeço pela consideração. Agora eu tenho que ir —Disse e desligou a chamada. Tinha abertura o suficiente com o homem para isso.
Mesmo que ainda estivesse sentada, sentia-se tonta enquanto encarava o aparelho bloqueado em suas mãos. Tentou respirar fundo ao sentir seus batimentos cardíacos acelerarem, após um momento de calafrio.
Agora não, pensou. Ela tinha que descer, ou subiriam para procurá-la.
Fez o exercício outra vez, ignorando o formigamento e principio de tremores. "Se não quiser recorrer aos remedios, faça uma contagem", lembrou da psicóloga falando.
1... 2... 3... não posso perder o controle.
4... 5... 6... respira fundo, Enid. vai dar certo, não tem porque ter medo.
7... 8... 9... talvez tenha. E se durar mais de um mês?
10... 11... 12...— Tudo bem, lobinha? —Murray questionou enquanto aparecia na porta do quarto.
— Claro! Tudo ótimo! —Tentou soar animada.
— Tem certeza? Você parecia nervosa olhando o celular.
— Foi só uma mensagem importante do trabalho —Falou tentando disfarçar os sinais corporais de que estava mentindo descaradamente.
— Ei, já combinamos sobre trabalho no final de semana!
— Eu sei. Já até esqueci sobre o que era!
O pai sorriu e deu as costas, falando que só tinha subido para avisar que o almoço estava pronto enquanto tomava distancia do cômodo novamente. Prontamente a garota correu até o banheiro, lavou o rosto, continuou a contagem até cinquenta —evitando agora os pensamentos a cada três números— e só então desceu as escadas, feliz por ter conseguido se estabilizar antes de acabar revelando o que há meses vêm omitindo.
Não que faltasse confiança ou algo do tipo, Enid apenas não queria preocupar sua família. Sabia que eles costumavam reagir de maneira bem nervosa a qualquer situação então, como o seu caso não era de toda irrelevância, provavelmente surtariam antes dela terminar de se explicar.
E ela o faria junto.
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Olá, seres!
O que acharam?
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What was I made for? • Wenclair
FanfictionWednesday Addams costumava aceitar sem pestanejar, mesmo que isso significasse fazer algo contra a própria vontade. Tal fato era vantajoso para os seus pais, os quais sempre tomavam a frente de todas as, teoricamente suas, decisões: Qual era o "namo...