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— Você parece mais animada hoje. Achei que não gostasse de Halloween —A psicóloga de Enid brincou de repente.

— Não gosto, não mesmo —Respondeu de imediato, dando um sorriso nervoso— Amanhã vou ver meus amigos e talvez uma pessoa que eu talvez esteja gostando vá. Só isso.

— Foram muitos talvez nessa frase.

— Bem lembrado, mas tem outro assunto o qual eu queria falar antes desse —A profissional assentiu, aguardando a continuação— Pesadelos. Eu voltei a tê-los.

— Os mesmos?

— Quase. Ando revivendo o que aconteceu, mas às vezes detalhes são alterados agora. Como... pessoas que não estavam lá.

— A pessoa que talvez você esteja gostando, por exemplo —Supos e Enid assentiu— Ela participava de alguma forma?

— Não. Só ficou lá parada olhando enquanto tudo acontecia.

— Bom, nosso cérebro tende a relacionar situações ou sentimentos. Os pesadelos podem ser a forma a qual ele expressa que você esteve, ou está, insegura. Uma situação traumática e um frio na barriga estão uma linha tênue.

— Não posso dizer que não faz sentido. Talvez porque ela me trate como um segredo.

— Como assim?

— Vai ser estranho dizer isso mas ela namora um cara e os pais dela são muito rigorosos —Disse um tanto nervosa, mas a psicóloga riu.

— Acredite, é um dos casos que mais vejo. Ela já demonstrou reciprocidade aos seus sentimentos?

Enid abriu a boca para responder, mas nada saiu. Se já? Em alguns momentos, sim, parecia. Todo o cuidado, todo risco; os olhares intensos, toques precisos. Mas por quê?

— Ela me deixa um pouco confusa.

— Por isso te amedronta?

— Eu tenho medo da incerteza, da fragilidade. É tudo... instável. Pode dar muito errado a qualquer momento, sabe? Um deslize e acabou.

A profissional anotou. Não parecia um bom sinal. Ou era, e não poderia ser identificado porque ela era muito boa em se manter apática de tão profissional quando o assunto são os seus próprios pensamentos.

— Bom, aí está o ponto em comum. De novo. Ausência de segurança.

— O que é confuso porque me sinto segura com ela. Na verdade, sinto muita coisa por ela, mesmo que boa parte do tempo eu esteja apática ultimamente.

— Mas não se sente sobre a situação com ela.

— Inegável —Resmungou.

— A ansiedade vale a pena?

Se ela soubesse...

— Quando estamos juntas eu me sinto viva. Só queria que alguma coisa viesse da parte dela.

— Por exemplo?

— Boa pergunta —Falou quase em um susurro.

Por mais que passasse algum tempo do seu dia pensando nisso, não conseguia encontrar uma resposta, não sabia o que mais poderia receber. Wednesday fazia tudo por ela, mesmo que significasse estar contra as regras estipuladas pelos pais, então por que não soava suficiente? Era tão egoísta assim?

— Troquemos o questionamento. O que você quer oferecer?

— Acho que eu queria conseguir... mais. Em qualquer sentido.

— Paixão, você diz?

Enid abaixou a cabeca por um segundo. Em voz alta era definitivamente mais bobo.

What was I made for? • WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora