8.

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No mesmo dia em que fizera o pedido da peça que, honestamente, ela nem sabia direito qual era, Wednesday conseguiu marcar a entrega graças à um happy our entre colegas de trabalho, o qual aconteceria em um restaurante próximo à empresa onde os pais trabalhavam, quase do outro lado do centro da cidade.

Era o suficiente, ela esperava.

Enquanto aguardava, pensava em como faria para saber o que há horas rondava sua mente. Poderia apenas perguntar, é claro. Poderia tambem esperar e ver se em algum momento a resposta viria. Porém, quando ouviu batidas na porta, foi infantilmente induzida à colocar um alarme no celular. O que isso significa? Bom, logo que Enid chegou, o celular de Wednesday tocou.

— Boa noite! Hora ruim?

— Não! É o meu namorado ligando. Superproteção, sabe como é, certo? —Justificou enquanto desligava o despertador, levemente arrependida— Boa noite.

— Na verdade, não. Nunca tive um —Disse dando de ombros e estendeu a sacola, que a Addams segurou sentindo algo gostoso no peito.

— Por opção, com certeza —Disse sem pensar e Enid arqueou as sobrancelhas— Quero dizer, você é estupidamente linda.

Enid sorriu e olhou para o lado por um momento, tentando disfarçar a queimação nas bochechas.

— Agradeço! Aliás, foi meia opção. Eu não sinto atração por meninos, mas também nunca tive uma namorada.

Wednesday assentiu, ainda mais mexida com a informação. Antes que pudesse usar a palavra identificar, mudou de assunto:

— E você? Hora ruim para vir?

— Na verdade, nem um pouco. É bom sentir essa brisa da noite depois de um dia cansativo.

— O que acha de sentarmos então?

— Precisa da companhia de uma espécie de entregadora não-exatamente-desconhecida na sua grande e solitária casa?

A mulher mais baixa afirmou com os olhos fechados, fingindo tristeza teatral. Enid soltou uma risada genuína e virou-se para a escada da varanda. Andando atrás, mais devagar, Wednesday abriu a sacola rapidamente, para não correr o risco da Sinclair perguntar sobre e ela sequer saber minimamente do que se trata. No entanto, ao descobrir, ficou pálida, sentiu o corpo gelado e aceitou que seria quase impossível esconder a surpresa.

Era uma pulseira colorida. E não com quaisquer cores, não em qualquer ordem. Junto, um cartãozinho o qual ela com certeza não leria ali e nem agora. Então, pigarreou e sentou ao lado da garota de olhos azuis.

— Seus pais sabem? —Questionou de repente, sendo encarada— Que você é...

— Lésbica? —Interrompeu sem qualquer esforço— Não é palavrão, Wednesday —Disse e deu risada mais uma vez.

— Eu sei! Claro! —Falou ansiosa— Eu só... não sou habituada a conversar sobre.

— Tudo bem. E sim, eles sabem. Contei quando tinha dezesseis porque acabei gostando de uma menina. Não deu em nada mas pelo menos foi bom pra eu ter coragem.

— E eles aceitam?

— No começo foi um pouco complicado pra processarem mas hoje em dia é bem tranquilo. Não preciso de aceitação, e sim respeito.

A Addams assentiu, reflexiva. Se ela fizesse algo assim, provavelmente seria exilada por dez anos da civilização enquanto era adequada à heteronormatividade. Era o que ela pensava e, por isso, evitava.

— Isso é ótimo. Faz sentido —Limitou-se a dizer.

— E você, Addams? Gosta só de meninos?

— Sim.

What was I made for? • WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora