Depois de tanto, agora Wednesday não fazia mais questão de esconder quando estava com Enid —o que era quase tempo todo, se sentia melhor com ela do que na própria casa. Aproveitava as saídas também para ver os amigos, os quais fez questão de trocar números novamente e voltar a ter contato. Se chegara ao ponto de fazer compras e não ser descoberta, aquilo não parecia diferente. Até mesmo estudar ela o fazia na casa da Enid —mas isso sim falando que estava na biblioteca da faculdade para os pais. Apenas não dormia por lá por medo de pedir.
E nessa noite, por algum motivo, o medo havia ido embora. Ou melhor, o desejo tinha o superado.
— Tudo bem se eu passar a noite na casa da Enid amanhã? —Soltou o questionamento no meio do jantar.
Os pais se entreolharam ao mesmo tempo. Nem se fosse combinado o movimento sairia tão perfeito. E sabe a sensação de arrependimento logo após fazer algo? Foi exatamente o que ela sentiu. Talvez não fosse a hora. Talvez porque Joel estava naquele jantar.
— Querida, achamos que você anda passando muito tempo na casa dessa sua nova amiga. Quer dizer, onde vocês se conheceram mesmo? —Morticia quem teve coragem de começar.
— Universidade.
— Sabemos, mas o que ela cursa?
— Marketing, mas já cursou publicidade e propaganda também. Eu já respondi, e venho respondendo repetidas vezes, todas essas perguntas.
— Quantos anos ela tem?
Talvez porque definitivamente não era o momento de dizer que Enid era cerca de cinco anos mais velha.
— Por que isso importa?
— Só estamos cuidando de você.
— Eu estou bem, Enid é uma boa pessoa e eu estou aprendendo bastante com ela.
— Você mal tem dado atenção ao Joel. Não acho que isso seja normal.
— Imagina, sogra! Nós conversamos bastante durante os programas com vocês e por mensagem —O garoto tentou defende-la.
— Não é o suficiente. Vocês são namorados. Futuros noivos!
Wednesday juntou as sobrancelhas, confusa e irritada.
— Desde quando? Que eu saiba não aceitei pedido nenhum.
O projeto de silêncio, apenas impedidos por talheres colidindo com o prato, pesou o ambiente.
— Bom, pensei que fosse o plano.
A Addams mais nova soltou ar pelo nariz.
— O plano de vocês. Sempre de vocês! —Exclamou e levantou da cadeira.
— Wednesday, sente-se. Agora —Gomez mandou impaciente. Se havia algo no mundo que tirava a sua paz era desordem.
— Estão vendo? É disso que eu falo! Para que eu existo se não posso tomar uma decisão sequer por mim mesma? Para que eu fui feita, afinal? Para ser um brinquedo vivo que vocês controlam?
Todos na mesa estavam assustados. No fundo, atrás do coração disparado, até mesmo ela. Nunca havia feito algo daquele tipo, nem parecido.
— Nós apenas nos preocupamos com você, Wednesday. Não seja ingrata e rebelde —O homem continuou.
Ela ri debochada.
— A minha vida inteira eu quis acreditar nisso, mas não consigo. Não mais, se é que um dia consegui. Vocês nunca nem ligaram para o que eu sinto ou quero. Nunca se deram o trabalho de perguntar se eu estava feliz ou se sabia o que e por quê estava fazendo. Não me ensinaram nada além de seguir o plano. Isso era tudo o que importava, não era?
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What was I made for? • Wenclair
FanfictionWednesday Addams costumava aceitar sem pestanejar, mesmo que isso significasse fazer algo contra a própria vontade. Tal fato era vantajoso para os seus pais, os quais sempre tomavam a frente de todas as, teoricamente suas, decisões: Qual era o "namo...