13.

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Seus pulsos, juntos, reclamavam pela pouca circulação. Sua boca, velada, fazia o medo e desespero crescentes, tal qual sua respiração menos eficiente. O coração batia rápido, descompensado, enquanto ela pensava no fato de que o segundo segunte poderia ser o último. Sua visão estava turva, incapaz de diferenciar sombras de realidade. Sequer sabia se os passos pesados entre pisos e janelas estavam de fato acontecendo ou se delirava no que parecia ser a quinta hora.

E então, Enid acordou. O pijama azul bebê grudado na pele suada. Levantou do colchão desesperada ao ouvir um trovão junto às gotas de água que agrediam o vidro da janela e sentou no canto mais próximo do quarto, abraçando os joelhos.

1... 2... 3... é impossível respirar.

Os olhos azuis focaram na última gaveta da cômoda e ela mal teve tempo de pensar quando correu e buscou a cartela cinza com um comprimido faltando. Agora eram dois.

Aproveitando o ato de coragem, pegou o celular, quase arrancando o carregador da tomada e voltou para o canto. Yoko e Ajax não atendiam. Não poderia ligar para os pais. Se recorresse à policia, o que diria? E então apareceu.

Wednesday.

É segunda-feira. Por mais que a ideia seja atrativa, você não pode me levar para ver o nascer do Sol.

Enid quase pode sorrir quando ouviu a voz rouca de sono por meio da chamada.

— Azar o seu, não é por isso que te liguei.

A Addams sentou na cama preocupada.

Por que parece que você está chorando?

— Você pode... me fazer companhia? Só um pouco.

Posso, mas por quê?

Porque eu não consigo sozinha.

— Tive um pesadelo —Limitou-se a dizer. Era isso. Um pesadelo. Um durante o sono, outro que a prendia no passado e agora um do qual ela estava com dificuldades para acordar.

Quer falar sobre?

— Não —Negou rapidamente.

Tudo bem. Apenas lembre-se de que não foi real.

Enid apertou os olhos com outro trovão.

— Não gosto quando chove forte.

A chuva é um fenômeno natural muito importante para a vegetação.

— Bom pra ela, não pra mim.

De tabela, você sabe que sim.

— Me arrependo amargamente de ter te ligado. Quem consegue ser tão inteligente e racional uma hora dessa da madrugada?

Wednesday se permitiu rir, sabendo que ela brincava parcialmente.

Vá beber água, lavar o rosto e depois deite novamente.

Enid engoliu seco. A ideia de sair dali não era convidativa. Suas pernas sequer respondiam.

— Eu posso só deitar.

Com o corpo quente não vai pegar no sono. Vamos, eu te acompanho por vídeo —Sugeriu já enviando a solicitação.

A Sinclair aceitou, um tanto envergonhada pelo próprio estado.

— Já bebi água —Avisou mostrando a garrafa de metal. Não disse que era por causa do medicamento, nem que foi apenas um gole.

Ótimo. Agora, banheiro —Enid fez cara feia— Você está segura. Nada pode entrar se você não deixar.

What was I made for? • WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora