CAPITULO 25

108 15 103
                                    

**AMBER**

**Dia seguinte...**

Era de manhã quando acordei sozinha na cama. Não sabia onde os outros estavam, mas também não fui atrás de saber. Acredito que os encontraria caminhando pela casa. Levantei-me e fui para o banheiro adjacente para me arrumar antes de descer para a cozinha.

Foi doloroso ver o reflexo das cicatrizes no espelho quando me virei para vestir minha camiseta. Raramente elas me incomodavam tanto, mas era doloroso saber que o homem que as causou estava mais próximo do que eu pensava.

Doía pensar na pessoa que ele é também.

- Como você está? - Micaela se aproximou com duas canecas de café nas mãos enquanto eu abria a geladeira, já na cozinha. Eu peguei uma delas enquanto esperava minhas torradas ficarem prontas na torradeira.

- Péssima. - respondi sinceramente. Minha vontade, embora menos intensa no momento, era de fazer minhas malas e fugir. Mas essa vontade não podia ser realizada no momento, então eu continuava ali, agoniada.

- Dentre todas as coisas que eu achei que pudessem voltar para nos atormentar, nunca pensei que isso ocorreria. - lamentou Micaela - Sempre achei que você tinha matado o desgraçado. Por isso estava no reformatório.

Respirei fundo enquanto me servia uma caneca de café.

- Faz tempo desde que falo disso, mas entrei com uma tentativa de assassinato, era pra ser legítima defesa - expliquei novamente para Mica - Mas meu padrasto tinha contatos na polícia. Ele me jogou dentro do reformatório praticamente. Acho que ele esperava que eu morresse lá.

É tão estranho pensar nele, é como se sempre houvesse uma presença dele perto de mim, me sugando, me observando e esperando um tropeço meu para me alcançar. Sei que ele não morreu com aquela bomba, sinto isso dentro de mim, mas gostaria de saber se pelo menos se feriu, se aquele verme está sofrendo um pouco de dor depois de me causar tanta.

Não tive notícias de Santiago desde o atentado, e era melhor assim, quanto menos contato, menos a polícia conseguiria rastreá-lo, mesmo que ainda estivessem procurando por suspeitos.

- Você vai matá-lo. Vamos garantir isso. - Micaela colocou sua mão em meu braço e o apertou em solidariedade - E se você não quiser fazê-lo, eu farei por você. Jonas e Jesus podem se divertir sendo sádicos com ele à vontade, mas o primeiro corte na pele dele será o meu, se não for seu.

O olhar que Micaela me deu ao terminar de falar era um olhar que eu não via desde o reformatório. Foi exatamente esse olhar que ela me deu na primeira vez que cuidei dela e de seu irmão, e foi a primeira vez que tive certeza de que foi uma ótima escolha trazê-los para minha gangue.

A companhia de Mica sempre foi como uma brisa leve entre as enormes personalidades explosivas dos meninos. Sempre gostei de tê-la por perto, até porque nunca tive muitas amizades femininas antes de conhecê-la, ou amizade alguma, para ser exata. Com o tempo, nossa amizade, assim como a dos meninos, passou de apenas um laço necessário a ser um laço de família para mim.

- Você é melhor do que qualquer irmã que eu poderia sonhar em ter. Gostaria de ter crescido ao seu lado, para que pudéssemos ter tido a chance de crescer juntas e talvez ter tido uma vida mais tranquila. - a trouxe para perto, dando-lhe um abraço apertado. Micaela respondeu com um abraço ainda mais apertado.

- Você cresceu comigo, são mais de dois anos já. - relembrou melancólica - Sinto como se conhecesse você minha vida toda.

Antes que eu pudesse responder, os vultos de Jonas e Jesus surgiram na cozinha pela entrada que dava acesso à sala, ambos segurando armas grandes em suas mãos, com semblantes preocupados.

As Verdades de La ReinaOnde histórias criam vida. Descubra agora