VIII. Fim de semana

903 155 15
                                    

Apesar de sua completa exaustão, Rebecca pegou o último voo para Seattle depois da gravação do segundo episódio. As últimas cenas tinham exigido dela não apenas fisicamente — graças a um porre de Mia e uma briga com a cantora rival —, mas também emocionalmente, pois os percalços do relacionamento entre Mia e Lalita haviam chegado a um novo patamar.

A filmagem da cena da briga havia exigido muitos takes, a ponto de Rebecca se arrepender de ter insistido em que não precisava de uma dublê para gravá-la. Não que a verdadeira dublê com quem ela contracenara a tivesse machucado, mas cenas de estapeamento e puxões de cabelo podiam ser bastante cansativas. Outra preocupação havia sido a presença de Freen em cena, já que Lalita era chamada para apartar a briga. A última coisa que ela queria era machucá-la sem querer, por isso ela ficou atenta a Freen a todo segundo, desde o momento em que ela entrava no tapete vermelho ao seu lado até quando a mais nova a envolvia com os braços para afastá-la da briga e depois tocava seu rosto com delicadeza para verificar possíveis ferimentos.

Atuar era reagir, e elas haviam aproveitado as deixas uma da outra, mesmo quando Rebecca mergulhara profundamente em si mesma para encontrar a dor de Mia. Sarocha acompanhou sua emoção enquanto Mia passava de ira à exaustão. Os momentos de silêncio entre elas depois da briga talvez tivesse sido uma das melhores atuações de sua vida.

Mas no fim da semana ela estava pronta para partir, e a saudade do filho era como um peso em seu estômago. Na sexta à noite ela saiu do estúdio direto para o aeroporto, e do aeroporto para o apartamento que mantinha em Seattle, onde dormiu por algumas horas. De manhã, dirigiu até o condomínio fechado em que o filho, a mãe e os avós viviam em segurança.

Atenta a qualquer figura suspeita, Rebecca estacionou na calçada e entrou na casa de tijolos salmão e terracota. Mesmo com a família tendo se mudado depois do incidente, ela nunca mais se sentiu totalmente segura. Lá dentro, Rawee se aproximou com uma xícara de café enquanto Rebecca ajustava o sistema de segurança. A atriz cumprimentou a mãe e, agradecida, tomou um gole de café.

— Sam está dormindo? — perguntou Rebecca, seguindo Rawee até a cozinha.

— Sim. — Rawee se sentou à mesa e colocou o óculos para retomar a leitura do jornal. — Ele vai ficar feliz em ver você quando acordar.

Rebecca se sentou, mas estava inquieta.

— Está tudo bem? Nada de anormal?

Rawee abaixou o jornal e lançou à filha um olhar gentil por cima dos óculos.

— Não acha que eu contaria a você se houvesse algo de anormal, filha?

— Claro. — A atriz não acreditava cem por cento nela, mas não queria aborrecer a mãe àquela hora da manhã.

— Quando foi que você chegou?

— Ontem, tarde da noite. Dormi no apartamento.

Rawee só levantou as sobrancelhas e continuou lendo a respeito dos últimos protestos políticos. Ela não precisava dizer nada, porque já haviam tido aquela conversa diversas vezes. A mãe achava uma idiotice que Rebecca mantivesse duas casas em Seattle e um apartamento em Miami, mas sabia por que a filha não se sentia confortável em dormir naquela casa.

— E por quanto tempo acha que ainda teremos que pedir aos amigos e professores de Sam que assinem termos de confidencialidade? — perguntou Rawee diretamente.

Rebecca apenas suspirou.

— Não exagere.

— Você o manteve em segredo por todo esse tempo. — continuou a mãe, num tom suave — Mas não pode fazer isso para sempre.

Você me ganhou no olá - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora