XII. A preparação

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Com a ajuda de um chef de verdade de um restaurante chinês na cidade, elas filmaram a sequência da cozinha, que envolveu uma porção de legumes picados, risadas e provas. Rebecca fora criada no restaurante da família em Seattle, já que mudaram-se de Phuket quando ainda era muito jovem, então nada daquilo era novidade para ela. Provavelmente estava mais à vontade na cozinha do que todos os outros, cercada pelo aroma de alho e dos vegetais cozidos.

Aquela parte foi filmada sem a captação de áudio, o que significava que nada do que os atores dissessem durante a gravação seria incluído na cena final. Elas deviam fingir que estavam se divertindo, e por sorte, Jennifer Coolidge - que interpretava Dahlia - era uma atriz de comédia com vasta experiência em improvisação. Jennifer arrancava sorrisos de Freen e Rebecca o tempo todo, fazendo coisas como oferecer à Rebecca um pouco de molho como se ela fosse um bebê, imitando o som de um aviãozinho e tudo o mais. Ela esperava que aquela cena fosse incluída na edição final. Sam ia adorar. E ela tinha que admitir que estava se divertindo ao exercitar seus talentos como comediante.

Kimberly estava empenhada em tornar a experiência o mais real possível, por isso orientou Rebecca a ficar de olho no molho e mexê-lo de vez em quando. Ela estava diante da panela, inalando aquele aroma que a fazia se lembrar de casa, quando Freen apareceu ao lado dela.

Olhando-a nos olhos, ela mergulhou uma colher limpa no caldo.

- Se uma vai comer alho, todas precisam comer. - disse.

Será que Freen estava se referindo à cena do beijo que viria a seguir? Rebecca esperava que sim, porque àquela altura só conseguia pensar naquilo, e não queria ser a única.

Rebecca baixou os olhos quando Freen levou a colher à boca, os lábios carnudos envolvendo o talher de metal de uma forma que fez o coração da mais velha disparar. Ela passou a língua no lábio inferior para limpar uma gotinha errante e bateu os cílios ao murmurar um "hummm".

Rebecca pigarreou.

- Tenho um enxaguante bucal no camarim.

Nossa senhora, ela não parava de falar merda.

- Eu também, mas mesmo assim.

Freen abriu um sorriso sedutor quando jogou a colher no bolso do avental e se virou. A mais baixa precisou conter a vontade de tocá-la. Pelo canto do olho, notou a câmera que as acompanhava. Só mesmo os anos de experiência a impediram de fazer contato visual com a câmera quando ela voltou a mexer o molho na panela.

Caralho. Aquele era o momento mais verdadeiro que haviam compartilhado até então, e seria cortado na edição final. Bom, fazer o quê. Era esperado que as personagens se aproximassem, certo? Que flertassem e retomassem o antigo romance. Aquilo se encaixava. Ninguém desconfiaria.

Mas Rebecca vinha contracenando com Freen havia algumas semanas, e ela sabia que aquela chama nos olhos e na voz da mais nova havia sido real. Freen estava flertando com ela, e ela não sabia bem como se sentia a respeito disso.

Mentira. Rebecca se sentia ótima. O problema era que estava tão fora de forma que perdera a habilidade de flertar de volta.

Quando a diretora anunciou uma parada antes de rodarem a cena do beijo, Rebecca correu para o camarim a fim de fazer a higiene bucal mais cuidadosa de sua vida. Ela imaginou que Freen estivesse em seu camarim submetendo-se ao mesmo ritual pré-beijo, então gargarejou mais uma vez com o enxaguante.

Por força do hábito, checou o celular antes de voltar ao set e franziu o cenho ao perceber que havia recebido uma mensagem de voz da mãe. Encostando o celular na orelha, ouviu a mensagem.

- Olá, minha filha. -- começava Rawee, em sua saudação de sempre. - Não se preocupe, está tudo bem.

Rebecca sentiu o coração parar. Sempre que a mãe começava uma mensagem dizendo "não se preocupe, está tudo bem" significava que nada estava bem.

- Estamos indo para o pronto-socorro. - continuou Rawee, em tailandês. - Sammy caiu de uma árvore e machucou o pulso. Acho que foi só uma luxação, mas vou levá-lo para fazer um raio X. E seu avô ainda não melhorou da tosse, então vou levá-lo para um check-up também. Minha mãe vai com a gente.

Rawee terminava a mensagem com mais um "não se preocupe". Rebecca fechou os olhos por um segundo e então ligou de volta para a mãe. A ligação chamou, chamou e caiu na caixa postal. Resistindo à vontade de ficar ligando repetidamente até que a mãe atendesse, decidiu mandar uma mensagem de texto, avisando a mãe que estava ocupada com as filmagens, mas que queria receber notícias assim que fosse possível. Além de correr para o aeroporto e pegar o primeiro voo para Seattle, não havia mais nada que ela pudesse fazer.

Não era a primeira vez que Sam ia parar no pronto-socorro. O menino tinha mania de escalar as coisas, o que significava que também estava sempre caindo. Mas toda vez que isso acontecia, Rebecca desejava estar lá para cuidar de seus machucados e curativos. E o avô estava com 83 anos, então até mesmo um resfriado era preocupante.

Alguém bateu à porta.

- Está tudo pronto. - avisou uma assistente de produção.

- Obrigada. - respondeu Rebecca.

Droga. Enquanto se preocupava com o estado de saúde de sua família, ela tinha esquecido completamente da cena do primeiro beijo com Freen. Por força do hábito, passou as mãos pelo cabelo, afastando-as em seguida. Não queria ter que explicar ao cabelereiro porque estava toda despenteada de repente.

Ela precisava se acalmar, mas aquilo seria difícil, pois o pai estava incomunicável e Rebecca não podia ficar esperando por uma resposta. Tudo que ela podia fazer era voltar para o set e torcer pelo melhor.

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Esse capítulo foi curtinho, então vamos ter mais um ainda hoje :)

Você me ganhou no olá - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora