XXX. Saudade

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Freen trancou a porta do trailer atrás de si e deixou os ombros cansados caírem. Ficar longe de Rebecca estava acabando com ela.

Ela tinha dado a deixa e a mais velha tinha aceitado, como sabia que faria. A antiga Freen teria ligado para ela diversas vezes nos últimos dias, mas a nova Freen estava decidida a seguir seu Plano da Mulher de Sucesso.

Talvez tivesse que convocar as Primas Poderosas para ajudá-la a se manter firme, mas às vezes as mudanças levavam tempo mesmo.

Ela foi até o espelho e começou a tirar a maquiagem com um lenço umedecido, tomando cuidado principalmente com a área dos olhos. Malee tinha lhe mandado um artigo sobre como os lenços removedores de maquiagem faziam mal, e, ainda que Freen quisesse debochar daquilo, a informação ficara grudada em sua mente.

Quando chegou ao batom, parou. Uma parte de Freen não queria limpar a sensação dos lábios de Rebecca nos dela. E se aquele fosse o único jeito de estar perto dela? Só faltava gravar mais um episódio, e a segunda temporada ainda não estava garantida.

Idiota. Ela estava agindo como uma adolescente que tinha prometido nunca mais escovar os dentes depois de beijar pela primeira vez, não como a porra de uma Mulher de Sucesso que era completa e feliz por conta própria.

Que se danasse tudo aquilo. Ela esfregou a boca com um lenço umedecido, fazendo mais força do que o necessário.

Quando terminou, encarou seu reflexo no espelho. A boca estava um pouco inchada e vermelha por causa da fricção. Ela podia adivinhar o que a avó diria, e imaginou Malee colocando um potinho de hidratante labial em sua bolsa sem que ela visse.

A imagem a fez sorrir, e ela se agarrou a isso enquanto tirava o figurino de Lalita e vestia a própria roupa. O dia da festa de Malee estava chegando e, ainda que Freen tivesse perdido qualquer esperança de que Rebecca fosse comparecer — especialmente agora que ela sabia o quanto a mais velha odiava multidões —, ainda assim estava ansiosa. Ela e os primos tinham se esforçado para fazer um evento que ficaria para sempre na memória da família Chankimha.

Ela ouviu uma batidinha leve na porta e abriu para deixar Leo e Dascha entrarem. Os três tinham combinado de se encontrar no trailer de Freen, que era maior, antes de seguirem para uma taquería para jantar e tomar uns drinques.

— Está pronta? — Perguntou Leo.

— Quase. Fiquem à vontade.

Freen passou um pouco de hidratante no rosto, enquanto os amigos esperavam no sofá vendo vídeos do cachorro de Leo. Ela estava terminando de passar um gloss labial quando ouviram outra batida na porta.

Freen olhou para Leo e Dascha através do espelho.

— Vocês chamaram mais alguém?

Eles fizeram que não com a cabeça, e Freen deu de ombros e seguiu para abrir a porta. Devia ser um assistente de direção com alguma atualização no roteiro. As mudanças feitas pelos roteiristas de Lalita eram mais numerosas que as trocas de roupa da Lady Gaga em premiações.

Freen abriu a porta e teve um engasgo involuntário. Rebecca estava parada nos degraus de metal. Ainda que tivessem acabado de se encontrar no set, vê-la ali causou uma reviravolta em seu estômago, uma combinação de desejo e saudade. Ela estava linda, com o rosto recém-lavado, e usava uma camiseta branca básica e calça jeans. Mas não era só o sex appeal de Rebecca que a fazia engasgar. Era a identificação, a surpresa, aquela sensação de aí está você, eu estava à sua espera.

Mas ela não sabia que a mulher vinha, não achava que ela apareceria. Só que agora ela estava ali. E o que mesmo ela tinha falado mais cedo? Onde você estava?

Você me ganhou no olá - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora