Você me ganhou no olá - Freenbecky

IV. Primeira leitura

Entre a conversa com Sam e uma série de interações positivas com a showrunner, o primeiro assistente de direção e o diretor do primeiro episódio, a confiança de Rebecca voltou com tudo. Depois de trabalhar por quinze anos na TV, ela se sentia em casa naquela agitação, mais do que em seu apartamento em Miami ou em sua suíte no Brooklyn Bridge. Claro, aquele papel tinha muita coisa em jogo, mas ela daria conta. Era uma das melhores em sua área — não, não uma das melhores, a melhor — e estava ali para mostrar ao público norte-americano — e aos produtores e agentes — o que ela sabia fazer. Fácil, fácil.

Ela seguiu Rosie até a sala de conferência onde seria feita a leitura. Uma porção de gente estava amontoada no corredor, incluindo executivos da LylasFlix, produtores, roteiristas e alguns atores que Rebecca reconhecera das notícias sobre a série. Fazia muito tempo que ela não era escalada para uma produção onde não conhecia ninguém. Tudo que ela queria era entrar na sala de conferência e sentar em seu lugar, mas se apresentou a Sunan Gardener, um ator veterano que interpretaria o pai de Lalita. Sunan, um homem filipino rechonchudo, com cabelos grisalhos e sobrancelhas grossas, era simpático, engraçado e bom de papo, o que levou-os logo numa conversa sobre telenovelas.

Então Freen chegou e Rebecca levou um susto.

Ela continuava estonteante e incrivelmente sexy, mas... que roupa era aquela?

Sabe-se lá como, a mais nova arrumara um novo look, e, embora o cabelo e a maquiagem continuassem impecáveis, ela parecia uma modelo fitness que tinha entrado na sala errada, e não a atriz principal de uma série sobre uma executiva de relações públicas.

A culpa invadiu Rebecca. Como ela se sentiria se tivesse que aparecer no primeiro dia de trabalho usando short de academia? Claro, alguns atores usavam roupas casuais nas leituras. Havia uns três ali de calça jeans. Mas interpretar a personagem principal implicava um certo senso de liderança. Era comum que todos se esforçassem para passar um ar profissional, pelo menos antes que as jornadas de trabalho de vinte e quatro horas levassem todo mundo à exaustão. Rebecca não era a protagonista, mas, como fazia parte do par romântico central, estava usando um vestido preto floral com uma singela fenda até as coxas e uma sandália meia pata com saltos baixos.

Freen, como ela tinha visto naquela manhã, havia se vestido muito bem. Mesmo coberta de café, estava claro que escolhera um conjunto de roupas estiloso e sofisticado. A outra até tinha feito um comentário sobre isso, mas Rebecca estava tão mortificada que não tinha entendido direito o que a maior dissera. Por causa de seu erro, Freen parecia pronta para ir à academia... de salto alto.

A mais velha se sentiu uma idiota de novo. Sério mesmo que tudo que ela lhe oferecera fora o próprio café e uma oferta besta de pagar a conta da lavanderia? Qual era o problema dela? Freen nunca a perdoaria, e Rebecca não podia culpá-la por isso.

— Certo, vamos começar! — Rosie bateu palmas.

Todos pararam de falar e entraram na sala para tomar seus lugares em torno da mesa de conferências. Plaquetas de papel branco com o nome dos atores impresso, indicavam o lugar de cada um. Em frente a todos os assentos havia uma cópia do roteiro, um pequeno montinho de fichas para anotações, um copo e uma garrafa de vidro com água e fatias de limão.

Como uma das personagens principais, Rebecca estava bem ao lado de Freen, mas ela estivera tão distraída que nem sequer pensava na questão até aquele momento.

Ela afundou na cadeira de metal desconfortável e se ocupou em folhear o roteiro, o corpo inteiro em alerta quando Freen se sentou ao seu lado. Rebecca deu uma olhada na direção dela, acompanhando o deslizar de suas longas pernas — à mostra — enquanto ela as cruzava debaixo da mesa.