XXIX. Cena VII

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Lalita no comando

Episódio 7

Cena: Mia e Lalita conversam depois das aparições da cantora em talk shows.

EXT: Degraus da frente da casa dos Suwan. - NOTURNA

O céu estava escuro, iluminado pelo brilho amarelo das luzes da rua, e fazia silêncio na vizinhança. Mia se sentou ao lado de Lalita nos degraus da entrada da casa dos pais dela. Sentadas muito perto uma da outra, seus ombros se tocavam.

Elas tinham acabado de chegar, depois de um dia atribulado em que Mia expusera todos os seus sentimentos em uma série de programas de televisão. A cantora admitira que lutava contra a depressão e a ansiedade, que abusava das bebidas alcoólicas e que tudo aquilo a tinha levado a se afastar das pessoas, a terminar seu casamento e a cancelar a turnê.

- Você se saiu muito bem hoje. - A voz de Lalita vibrava com um orgulho genuíno, e ela curvou os lábios num sorrisinho secreto. Um que só Mia conhecia.

- Obrigada. - A cantora soltou o ar e apoiou os cotovelos nos joelhos. - Acha que alguém vai querer comprar meu novo álbum depois de tudo isso?

Lalita colocou as mãos nas costas da outra, massageando-a em movimentos circulares firmes, mas delicados.

- Acho que sim. Vulnerabilidade é sexy.

- Vulnerabilidade é exaustivo.

Depois uma pausa, Lalita disse em voz baixa:

- Eu nunca desconfiei.

A mulher mais nova estava se referindo a tudo que Mia tinha confessado. A mais velha fechou os olhos.

- Eu não queria que você soubesse.

- Mas eu deveria ter percebido que tinha alguma coisa acontecendo. Eu deveria ter tentado ajudar...

- Não havia nada que você pudesse fazer.

- Eu queria ter tentado mesmo assim.

Mia levantou a cabeça e dirigiu a ela um sorriso de pesar.

- Eu não facilitei as coisas.

Ela ergueu um cantinho da boca em resposta.

- Não. Mas eu também não.

O beijo era lento, lânguido. Como se elas tivessem todo o tempo do mundo. Como se não estivessem sentadas nos degraus da entrada da casa dos pais dela, onde qualquer um poderia vê-las. Como se elas fossem duas pessoas normais.

Como se a família dela não estivesse a caminho de Nova Iorque naquele minuto, como se elas pudessem controlar a própria vida, como se não estivessem cercadas pela equipe de produção, como se cada toque e cada respiração naquele beijo não tivessem sido ensaiados nos mínimos detalhes...

Quando elas se separaram para tomar ar, Mia olhou para Lalita com um ar de dúvida.

- Não sei o que vamos fazer. - respondeu ela com a voz rouca. - Mas o fato de você se abrir, deixar as pessoas entrarem, mesmo que seja só para dividir o fardo, é um começo. Você não está sozinha, meu amor.

A tensão que havia na cantora se dissipou. Ela queria beijá-la de novo, mas aquilo não estava no roteiro. Então apenas assentiu para ela e se pôs de pé. Ajudou-a a se levantar e, juntas, subiram os degraus de mãos dadas.

- Corta! Vamos fazer de novo!

Você me ganhou no olá - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora