48 - O chamado de Memoria

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A queda me parecia quase eterna. A aterrissagem parecia não chegar nunca, eu caia e caia. Eu abri os olhos e percebi que estava mergulhada em trevas. Não conseguia ver nada. Tentei chamar pelos meus amigos, mas só recebi como resposta o som da minha própria voz. Então eu vi uma luz ao longe e tentei me aproximar. De repente não estava mais em trevas, e sim em um corredor com luzes ofuscantes. Automaticamente levei a mão aos olhos para me proteger. Eu ouvi vozes que cochichavam nos meus ouvidos coisas que eu não entendia. Eu sabia que falam comigo, pois várias vezes elas pronunciaram o meu nome. Depois de algum tempo, os sussurros ficaram mais distintos, mais claros, no entanto eu continuava a não entende o sentido.

*Lembre-se Ellanor, só falta uma prova*

-Uma prova?

Uma tontura tomou conta de mim. Eu senti minha entranhas se contorcerem de dor, tive a impressão de ser arremessada com toda rapidez no vazio. Uma luz menos ofuscante tomou conta do lugar. Minha visão estava turva e eu tinha dificuldades em ver onde eu estava. Felizmente uma voz familiar me guiou.

- Ellanor!

Depois de piscar os olhos várias vezes, eu reconheci imediatamente o Nevra. Minhas pernas enfraqueceram e eu caí em seus braços. Um peso se abateu sobre o meu corpo, acompanhado de uma sensação de fome, sono e desidratação. Sem nem sequer escutar as preocupações do Nevra eu pedi por comida e água. Trouxeram imediatamente e a Ewelein se lançou na minha direção.

Tudo parecia estranho para mim. Fiquei espantada com o que estava ao meu redor. Eles fizeram muitas perguntas para mim, mas eu não conseguia focar e entender.

- Ela não está respondendo bem a estímulos diferentes. Tem que ser levada para a tenda. Vai precisar de um pouco de descanso por um tempo.

Sem conseguir controlar nada, Nevra me pegou no colo e me carregou até o acampamentos como a Ewelein orientou. As formas a minha volta tornavam-se cada vez mais precisas e normais. Memória assumia suas cores naturais. Meu olhos doíam depois de serem expostos a tanta luz, e uma enxaqueca violenta me fez sentir enjoada. Ewelein entendeu imediatamente e fechou a tenda para me mergulhar na escuridão.

Eu não entendi nada do que estava acontecendo ao meu redor, as expressões que eu tinha lido nos rostos dos meus amigos, o Nevra parecia desolado e sobretudo, por que o meu corpo estava tão faminto, com sede e cansado? Essa viagem para o que eu supunha ser um "outro lado" tinha acabado com as minhas forças... Como era possível?

Acordei algumas horas depois, com a minha fome saciada. Eu ainda estava com dor de cabeça e ficava pensando nas vozes que tinham falado comigo. Quando finalmente conseguir me levantar, juntei-me aos outros no acampamento. Eu sabia que eles tinham toneladas de perguntas para me fazer. Nevra foi o primeiro a quebrar o silencio que se impôs com a minha chegada.

Ele me pegou em seus braços como se não tivesse me visto há dias e ao sentir que ele estava tremendo, percebi que não estava longe da verdade.

-O que aconteceu?

- É você que está nos perguntando isso? Você desapareceu por três dias! Onde você estava? Por que você não tem nenhum arranhão. O Leiftan viu você cair do precipício - Ewelein comentou. 

-O que? Três dias? Eu caí do precipício?

Fiquei chocada com essa notícia, agora entendo melhor o que o Nevra estava sentindo. O que eles disseram para mim era impensável. Eu lhes expliquei então o que tinha acontecido, esse sonho que se revelara outra coisa. Falei com eles detalhadamente sobre aquelas silhuetas que conhecera e seguira através de Memória, de suas palavras cujo significado me escapava, da certeza inabalável que tinham sobre o que eu não era, ou seja, um dragão ou a encarnação do oráculo.

Eldarya - Rota NevraOnde histórias criam vida. Descubra agora