A queda me parecia quase eterna. A aterrissagem parecia não chegar nunca, eu caia e caia. Eu abri os olhos e percebi que estava mergulhada em trevas. Não conseguia ver nada. Tentei chamar pelos meus amigos, mas só recebi como resposta o som da minha própria voz. Então eu vi uma luz ao longe e tentei me aproximar. De repente não estava mais em trevas, e sim em um corredor com luzes ofuscantes. Automaticamente levei a mão aos olhos para me proteger. Eu ouvi vozes que cochichavam nos meus ouvidos coisas que eu não entendia. Eu sabia que falam comigo, pois várias vezes elas pronunciaram o meu nome. Depois de algum tempo, os sussurros ficaram mais distintos, mais claros, no entanto eu continuava a não entende o sentido.
*Lembre-se Ellanor, só falta uma prova*
-Uma prova?
Uma tontura tomou conta de mim. Eu senti minha entranhas se contorcerem de dor, tive a impressão de ser arremessada com toda rapidez no vazio. Uma luz menos ofuscante tomou conta do lugar. Minha visão estava turva e eu tinha dificuldades em ver onde eu estava. Felizmente uma voz familiar me guiou.
- Ellanor!
Depois de piscar os olhos várias vezes, eu reconheci imediatamente o Nevra. Minhas pernas enfraqueceram e eu caí em seus braços. Um peso se abateu sobre o meu corpo, acompanhado de uma sensação de fome, sono e desidratação. Sem nem sequer escutar as preocupações do Nevra eu pedi por comida e água. Trouxeram imediatamente e a Ewelein se lançou na minha direção.
Tudo parecia estranho para mim. Fiquei espantada com o que estava ao meu redor. Eles fizeram muitas perguntas para mim, mas eu não conseguia focar e entender.
- Ela não está respondendo bem a estímulos diferentes. Tem que ser levada para a tenda. Vai precisar de um pouco de descanso por um tempo.
Sem conseguir controlar nada, Nevra me pegou no colo e me carregou até o acampamentos como a Ewelein orientou. As formas a minha volta tornavam-se cada vez mais precisas e normais. Memória assumia suas cores naturais. Meu olhos doíam depois de serem expostos a tanta luz, e uma enxaqueca violenta me fez sentir enjoada. Ewelein entendeu imediatamente e fechou a tenda para me mergulhar na escuridão.
Eu não entendi nada do que estava acontecendo ao meu redor, as expressões que eu tinha lido nos rostos dos meus amigos, o Nevra parecia desolado e sobretudo, por que o meu corpo estava tão faminto, com sede e cansado? Essa viagem para o que eu supunha ser um "outro lado" tinha acabado com as minhas forças... Como era possível?
Acordei algumas horas depois, com a minha fome saciada. Eu ainda estava com dor de cabeça e ficava pensando nas vozes que tinham falado comigo. Quando finalmente conseguir me levantar, juntei-me aos outros no acampamento. Eu sabia que eles tinham toneladas de perguntas para me fazer. Nevra foi o primeiro a quebrar o silencio que se impôs com a minha chegada.
Ele me pegou em seus braços como se não tivesse me visto há dias e ao sentir que ele estava tremendo, percebi que não estava longe da verdade.
-O que aconteceu?
- É você que está nos perguntando isso? Você desapareceu por três dias! Onde você estava? Por que você não tem nenhum arranhão. O Leiftan viu você cair do precipício - Ewelein comentou.
-O que? Três dias? Eu caí do precipício?
Fiquei chocada com essa notícia, agora entendo melhor o que o Nevra estava sentindo. O que eles disseram para mim era impensável. Eu lhes expliquei então o que tinha acontecido, esse sonho que se revelara outra coisa. Falei com eles detalhadamente sobre aquelas silhuetas que conhecera e seguira através de Memória, de suas palavras cujo significado me escapava, da certeza inabalável que tinham sobre o que eu não era, ou seja, um dragão ou a encarnação do oráculo.
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Eldarya - Rota Nevra
Fantasya história do jogo, com algumas adaptações para livro, seguindo a rota em que a guardiã fica com o Nevra