61 - Lance

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Agora é a hora de dizer a eles para onde eu estou indo... Preciso ser clara e breve. Como posso fazer isso? Preciso encontrar uma palavra chave que elas consigam entender apesar da barreira da língua.

-Memória!

Eu mal havia pronunciado este nome e já senti a minha energia me abandonar. O Oráculo se virou na minha direção com os olhos cheios de lágrimas.

- Espero ter conseguido te ajudar. Agora, o destino de Eldarya está nas suas mãos.

- O quê?

Com essas palavras, eu vi o Oráculo desaparecer pouco a pouco. O seu corpo já quase não era perceptível e a aura doce que a caracterizava se tornou cada vez mais fria. O meu coração ficou apertado e engoli em seco diversas vezes, tentando conter as lágrimas. Quando a silhueta desapareceu totalmente, um sentimento de tristeza intensa me invadiu. Eu tinha a impressão de que o oráculo acabava de dar o seu último suspiro. Comecei a chorar e percebi lágrimas rolarem nos rostos da Huang Hua e da Miiko também. Assim como eu, elas entenderam o que acabara de acontecer. Elas entenderam que o oráculo já não estava mais neste mundo. A sala das portas foi tomada por um véu negro e eu percebi que o meu espírito tinha voltado para o meu corpo.

Fui acordada pelo Lance, que me arrastou até o convés imediatamente. Eu ainda estava fragilizada pelo que eu acabara de viver. Os meus olhos ainda estavam úmidos e eu tinha um eterno nó na garganta. Eu acabei de perder um ser querido e eu sentia o luto envolver o meu coração com força.

- Nós ainda temos um longo caminho a percorrer e não ache que eu a deixarei vadiar por este barco.

Ele desamarrou os meus nós e jogou um balde d'água na minha direção, assim como um esfregão.

- Limpe o convés, não gosto de viver na sujeira. Não tente escapar jogando-se no mar, ou a minha nova amiga Kraken ficará muito feliz em capturá-la.

Obedeci sem dizer uma palavra. Na verdade, não tenho forças para lutar agora. Eu me sinto tão triste pelo Oráculo que eu só tenho vontade de chorar. Mas eu não posso, não vou deixar que o Lance descubra que o oráculo já não está mais entre nós.

O dia, apesar de tudo, passou rapidamente. Lance me deu muitas coisas para fazer. E quando a noite caiu, eu me apoiei contra o parapeito. Lance nem se incomodou em me amarrar. De qualquer forma, eu não tenho para onde ir. Fiquei no convés boa parte da noite, e ele também. Lance estava olhando fixamente o horizonte. Me senti impulsionada a ir falar com ele. Em silêncio, eu me aproximei dele e, quando ele entendeu que eu estava presente, ele deu um sobressalto.

- O que você quer?

-Eu só vim falar com você.

- Falar sobre o quê?

-Eu não sei... eu olho para você e de certa forma vejo o Valkyon... Não consigo entender as suas motivações.

- Não tente ser gentil comigo, isso não vai mudar nada a sua situação. Eu não vou te libertar.

Ele se fechou em silêncio. Não é por nada que ele é o irmão do Valkyon. Fui para o meu canto e acabei adormecendo. Na manhã seguinte, quando acordei, constatei que alguém teve o cuidado de me cobrir com uma coberta. Não sei quem fez isso, mas foi atencioso. Claro, não acredito que tenha sido o Lance.

Após alguns dias em alto mar, nós chegamos a Memória. Eu subi em uma das embarcações para atracarmos na praia. Eu estou desesperada. Como posso escapar dele?

- Pois bem, que viagem extenuante. Vamos estabelecer nosso acampamento no bosque e descansar.

Em um estalar de dedos, seus soldados obedeceram e foram na direção da floresta para montar algumas tendas. Lance foi muito claro nas suas ordens, deveriam montar algo discreto para que ninguém nos notasse. Em seguida, ele se virou para o Kraken e pediu que ela vigiasse os arredores. Como a guarda poderá passar por um monstro desses?

Eldarya - Rota NevraOnde histórias criam vida. Descubra agora