55 - Purgatório

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Esse teletransporte tinha desviado o meu pensamento por um instante, mas rapidamente, voltei a ter inúmeras perguntas. Por que o Mery tinha me dito aquilo? Por que o Leiftan tinha escondido essa história de mim? Qual era o seu interesse em manter segredo? Essas perguntas dominavam a minha mente sem nenhuma trégua. O meu cérebro estava fervendo.

Agora que Mery se foi, eu estou novamente sozinha. Eu ainda me sinto muito cansada. Certamente deve ser porque o meu corpo está entre a vida e a morte. Preciso encontrar rapidamente um jeito de voltar para o mundo dos vivos se não vou ficar presa aqui para sempre. Temo que só me reste pouco tempo.

O meu corpo começou a esfriar novamente. O calor emanado pela alma do Mery não foi o suficiente. Eu não quero morrer. Não agora. Eu ainda tenho muito o que fazer. Muito o que ver. Eu não posso morrer sem dizer adeus ao Nevra. Se eu ao menos tivesse uma pista, um caminho de luz, uma porta diferente...

Quando estava passando novamente pelo corredor da guarda, enquanto vagava pelo QG vazio, ouvi uma tosse. Quando olhei na direção, percebi que era o mascote da Ykhar. Será que isso quer dizer que ele está... Morto? Ele estava plantado na frente do quarto dela.

-Ei, bichinho... você não consegue entrar?

Ele ronronou antes de se esfregar na minha perna. O corpo dele estava gelado. Pobre criatura. Eu abri a porta e ele gritou de alegria antes de entrar no quarto. Então senti um calor familiar emanar do quarto. O mesmo de quando o Mery repousou. A Ykhar ficará arrasada quando souber... Ele estava velho, mas nunca estamos preparados para perder nosso mascote. Eu espero que ele não tenha sofrido muito.

Quanto mais eu vagava pelos corredores vazios e pelos caminhos frios do QG, mais a dormência tomava o meu corpo. O cansaço me roía por dentro e tive que me render a evidência. Eu estava morrendo. Eu não sabia como chegar até os meus amigos. Eu estava presa nesse lugar e a minha alma estava sofrendo. Sem saber se a minha morte seria tranquila ou dolorosa, decidi ir para o meu quarto. Eu queria sentir o cheiro do meu amante nos meus lençóis, senti o doce perfume do Nevra pela última vez. Eu gostaria de poder dizer adeus. Eu sinto que minha alma está se desintegrando. Eu sou apenas a sombra de mim mesma agora.

Andei sem esperanças até o meu quarto quando uma fumaça negra começou a vim na minha direção. Apesar dela só estar a alguns metros de mim, pude sentir toda a sua malignidade. Recuei, sentindo que essa coisa não queria o meu bem, mas ela se aproximou. Progressivamente, ela se transformou para me deixar entrever a silhueta reconhecível do daemon que já me perseguia a algum tempo.

- Você está aqui, Ellanor... Eu procurei por todos os lados.

- Não se aproxime de mim.

- Não tenha medo! Eu estou aqui por você.

Ele está se aproximando de mim. Eu preciso reagir. Tomada por um impulso de coragem, enfrentei o daemon. Eu estava muito fraca, mas estava determinada a enfrentá-lo nesse mundo, assim como no outro. Ele já tinha me intimidado demais, eu não queria morrer sentindo medo. Eu queria morrer com orgulho de ter enfrentado esse personagem odioso.

-Eu não vou me abater, daemon! Eu estou pronta para te enfrentar.

- Eu não quero fazer mal a você, Ellanor.

-Eu não acredito em você.

Eu me joguei em cima dele, sem pensar. Afinal, eu não tinha nada a perder. Ele obviamente não me deixou fazer nada e conseguiu me dominar com uma facilidade desconcertante. Eu estava fraca, todas as minhas forças abandonavam o meu corpo... Eu já não conseguia mais enfrentá-lo.

- Não desperdice a sua força inutilmente, Ellanor.

-Solte-me.

- Deixe-me ajudar.

Eldarya - Rota NevraOnde histórias criam vida. Descubra agora