Eldarya - Rota Nevra

62 - O sentido do Sacrifício

- Filho dos dragões, eleita do Oráculo, por que vocês estão causando tanto tumulto na nossa ilha?

Olhei rapidamente para o Lance, esperando detectar alguma reação ou emoção causada pela presença de Fafnir. Mas seu rosto permaneceu impassível, indetectável.

- Eu desejava vê-lo- Lance respondeu.

- As portas da nossa morada se abrirão na próxima lua.

- Preciso agora.

- Por que você está tão apressado meu filho? A sua atitude não é das mais agradáveis.

Ah! Eu sabia que Fáfnir não cederia!

- Preciso de respostas. Sobre eles... Sobre mim.

Lance se aproximou de Fáfnir e eles conversaram por vários minutos. Eu não consigo entender o que eles estão dizendo.

- Muito bem. Nos encontraremos amanhã, na minha morada. As portas estarão abertas para você.

-Espere, Fáfnir, esse homem é perigoso, ele quebrou o cri...- Orion tapou a minha boca com a mão, não consigo mais falar.

- Solte-a – Senti a pressão do Orion parar imediatamente- Eu sei de tudo que aconteceu minha filha. Eu sei que ele quebrou o cristal duas vezes. Mas não se preocupe, ele não nos fará nada.

-Não, Fáfnir...

A silhueta de Fáfnir desapareceu no ar, levada pelo sopro gelado do vento da noite. Como ele pode confiar tanto no Lance? Será que Fáfnir está escondendo algo de mim? Lance se aproximou de mim irritado.

- Você realmente terá que aprender a calar essa adorável boquinha. Entendeu?

-Você pode repetir? Eu sou meio burra.

- Você me cansa...- Ele levou a mão à testa para fingir que estava com dor de cabeça- Enfim, não vamos permanecer aqui. Não conseguirei suportar a presença dessas anomalias da natureza por mais tempo.

Ele está falando dos draflayels... Como ele matou o Mall, mascote da Ykhar, ele deve realmente ter um ódio mortal dos mascotes. Ainda bem que o Draco está seguro no Quartel. Voltamos para o acampamento e fomos dormir imediatamente e, na manhã seguinte, ao amanhecer, Lance me tirou da cama. Meu estômago começou a fazer barulho. Desde que estamos aqui, não fizemos muitas refeições. E, ao contrário do Lance, eu não sou adepta ao jejum.

Quando chegamos na passagem secreta, fui surpreendida pelo Lance respirando fundo antes de entrar na passagem. Será que ele está estressado com a ideia de finalmente encontrar o Fáfnir na morada dos dragões?

Quando chegamos nas portas, Lance mandou que eu o ajudasse a abrir. Parece que ele não quer fazê-lo sozinho. É desconcertante. Avancei na direção das portas. Coloquei as minhas mãos sobre os símbolos necessários e recitei o encantamento que nos permitia abri-las. Dessa vez, funcionou. Elas se abriram e Lance suspirou aliviado. Mesmo assim, ele ficou parado na frente da porta por um instante, sem dizer ou fazer nada. Ele é um ser horrível, espero que os dragões lhe reservem um destino à altura de seus crimes.

Atravessamos a porta e entramos na sala das lembranças. Vários outros espíritos de dragões se juntaram a nós. A recepção que eles nos reservaram é calorosa demais para o meu gosto.

- Minha criança e a eleita do Oráculo... Bem-vindos à humilde morada dos dragões.

Por que eles não têm medo do Lance? Por que eles não estão tentando dominá-lo? Será que eles não veem que eu sou sua refém? Eu me aproximei de Fáfnir e perguntei se poderíamos conversar a sós. O olhar que Lance dirigiu a mim era carregado de sentido.