64 - Sacrifício

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{ELLANOR}

Quando ele ergueu a sua espada, eu fechei os olhos e protegi meu rosto com os braços. Mas a espada não tocou me tocou, foi fincada violentamente no chão a alguns centímetros de mim... Por um instante, o meu coração parou de bater no meu peito. Tentei fugir, mas ele me pegou pela cintura. Não consigo me soltar.

-Solte-me.

- Você não irá a lugar nenhum, quando é que você entenderá?!

-E você? Quando você vai entender que eu nunca vou me submeter às suas ordens? Enquanto eu viver, eu fugirei.

- Então você não viverá por muito tempo.

-Que seja. Pois bem, mate-me.

Abri os braços para lhe mostrar que eu não tinha mais medo de morrer. Eu preferia morrer livre do que viver sob seu domínio.

- Eu disse, "não por muito tempo", isso significa que eu não a matarei agora.

-C-como?

- Eu ainda tenho coisas a tratar com você. Vamos voltar para falar com Fáfnir.

Ele está me segurando pelo punho com firmeza. Acho que não tenho escolha. Fomos de volta até a sala das lembranças.

- Você voltou, Lance. Como você está?

- Estou melhor, desde que você compartilhou sua energia comigo.

- Não há de que. Cuidar da nossa família é importante meu filho - Lance desviou o olhar - Agora você entende a decisão dos seus pais?

- Não, infelizmente.... Mas eu abri os olhos para algo importante.

- O que?

- Eu nunca deveria ter travado essa guerra sem o meu irmão - Essa frase congelou o meu sangue. Lance está completamente cego pelo seu ódio.

- O que?

Lance ficou paralisado e, em seguida, olhou por cima do seu ombro, como se ele esperasse ver alguém. Parece que há algo errado.

- Oh, eu não esperava que você dissesse isso... - Fafnir respondeu.

-O que está acontecendo Fáfnir?- perguntei.

- Nós temos visitas.

-Visitas? - Será que a guarda de Eel nos encontrou?

- Nós devemos partir o mais rápido possível. Não percamos tempo!

Lance me agarrou pelo punho bruscamente e ordenou que eu o seguisse. Fomos até a praia e eu vi navios fenghuangs ao longe. O kraken estava indo na direção deles.

-NEVRA! EU ESTOU AQUI!

Eu quis correr para a água, ao seu encontro, mas Lance ainda está me segurando com firmeza.

-Você fica aqui comigo. Orion, assegure-se de que esses filhos de um cão não nos sigam.

- Pode deixar!

Lance me segurou ainda mais forte e me puxou de volta para as planícies de Memória.

-Você não tem mais para onde ir... E não conte com o Fáfnir para protegê-lo. Ele deixará o Valkyon entrar, assim como ele o deixou profanar a sua morada!

- Cale-se tolinha.

O estresse está começando a dominá-lo. Preciso usar esse ponto fraco. Lance realmente não sabe para onde ir. Agora é a hora de complicar a sua vida e fugir. Eu dei um pontapé na sua canela. Ele tropeçou e me largou por um instante. Aproveitei para correr para o mais longe dele possível. Mas ele não se deixou abater e eu rapidamente senti um tipo de corda envolver a minha garganta... Algo que parecia um chicote, mas cujo calor queimava levemente o meu pescoço.

- Você não escapará, venha aqui.

Ele puxou de uma só vez esse laço de energia que apareceu na sua mão. Por um instante, achei que fosse sufocar. Eu não tenho outra escolha, preciso continuar a segui-lo. Ele me carregou até o penhasco esquecido. Lance permaneceu agarrado em mim, como se eu fosse a sua última esperança. Ele parece sentir, assim como eu, o fim dessa perseguição maluca.

Ezarel, Valkyon, Leiftan e... Nevra, chegaram alguns instantes depois, visivelmente aterrorizados. Eu podia ler em seus rostos todo o medo que eles sentiam com a ideia de Lance me jogar do penhasco.

- Um passo a mais e ela encontrará o fundo do oceano.

- Lance, não faça isso! Pense bem- Valkyon gritou.

-Deixem que ele me jogue! Eu não me importo em morrer! Vocês não podem deixar que ele escape.

Lance me deu um golpe forte nas costas e eu perdi o fôlego. Eu vi os rapazes reagirem quando me viram gritar de dor. Eu olhava para eles com um ar que dizia "está tudo bem". Eu estava pronta para saltar, se isso permitisse que eles capturassem o Lance. Mas eu sentia que eles fariam de tudo para que eu volte sã e salva... Que eles estavam prontos para sacrificar a chance de capturar Lance para me salvar. Eu não consegui conter as minhas lágrimas.

Ao meu redor, só havia o silêncio, até o vento parecia suspenso... Como se ele também esperasse para assistir ao desfecho dessa história. Mas ninguém poderia prever o sacrifício que se seguiria.

- Meu irmão, você precisa entender que essa guarda não se importa conosco e que, na primeira oportunidade, eles nos sacrificarão em prol do equilíbrio quimérico deste mundo.

- Você está errado, a Miiko nunca faria isso conosco. Temos outras opções. Você ainda pode voltar ao meu lado, Lance.

- Não diga besteira, eu sei muito bem que os seus amigos me matarão assim que tiverem uma oportunidade.

- Então, eu o seguirei, meu irmão. Mas para isso, você precisa libertar a Ellanor.

-Valkyon, não se sacrifique por mim! Eu lhe suplico, fique.

- Tudo ficará bem, não se preocupe comigo, Ella.

Essas palavras ecoaram no ar e dilaceraram o meu coração como lâminas de uma navalha. A ideia do Valkyon se sacrificar por mim era inadmissível. Como eles podiam deixá-lo fazer isso? Era loucura! Uma loucura tenebrosa. Eu olhei para os rapazes.

-Impeçam que ele faça isso, eu lhes suplico!

- Valkyon, você tem certeza?

- Sim, Nevra. Lance, deixe-a partir.

Imediatamente, eu senti o Lance me soltar. Mas, logo depois, uma parece de um azul cristalino se formou ao meu redor. Lance tinha dado um passo a frente, mas ele continuava esperto e me prendeu graças aos seus poderes para se proteger de um possível ataque.

- Cuidado, se você tentar me derrubar ou me matar, ela permanecerá presa nessa jaula mágica.

- Rapazes, não façam nada aqui e fiquem aqui. Protejam-na.

- Entendido- Ezarel concordou seguido do Leiftan e do Nevra.

- Nós o faremos, Valkyon

- É uma promessa.

Valkyon lançou um último olhar na minha direção.

-Valkyon... - Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.

Me sinto tão mal que não tenho forças para dizer mais nada... Golpeei a parede da minha prisão mágica, em vão. Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto e eu não as contive. O meu coração partiu em mil pedaços enquanto ele se afastava sem olhar para trás. Lance o seguiu e eu o vi colocar uma mão firme sobre o ombro do Valkyon.

Apesar da distância, eu podia sentir a angústia que o dominava e o quanto essa decisão o tinha deixado arrasado. Nesse dia sombrio, eu percebi que a partida do Valkyon não anunciava nada de bom. Eu estava aterrorizada com a ideia de perdê-lo para sempre.

Eldarya - Rota NevraOnde histórias criam vida. Descubra agora