54 - Silêncio

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{ELLANOR}

Senti a mão do Ashkore apertar a minha garganta. Lágrimas rolaram pelo meu rosto enquanto a minha mente fraquejava lentamente. Então ele me soltou e eu caí no chão, com dificuldades para retomar o meu fôlego. Eu não tinha mais nenhuma força... Eu só conseguia observá-lo avançando na direção do Cristal, com o aço de sua lâmina riscando o chão em um ruído surdo que me cortava o coração.

*Crac*

Eu fechei os olhos, pronta para sofrer uma dor violenta quando o Ashkore quebrou o cristal. Mas o sofrimento nunca veio. Aliás, não havia mais nada: Nenhum grito, nenhuma risada, nenhuma lágrima, nenhum suspiro, nem o vento soprava. Só restava o silêncio. Quando eu abri os olhos novamente, era dia. Rapidamente, procurei a Miiko e o Ashkore com o olhar e percebi que os dois tinham desaparecido... Assim como os ferimentos que o homem mascarado havia causado em mim. Será que o oraculo me protegeu em um último suspiro? Isso me parecia improvável... Eu não tinha sentido nem o seu calor, nem a sua aura ao meu redor na hora do suposto golpe.

Eu me levantei, apreensiva, e olhei ao meu redor para procurar qualquer mudança. Tudo estava como antes... Eu não entendia. O que aconteceu? Será que sonhei? Aonde eu estava quando tive esse sonho? Tudo isso é muito estranho, há algo errado, por que não há ninguém aqui? E por que o cristal está intacto? Eu me lembro claramente de Ashkore se aproximando para quebrá-lo. E sem querer ser pessimista, não vejo como ele teria fracassado. Falando do cristal é melhor eu me aproximar para ver como ele está.

Com o coração batendo a mil, eu me aproximei da massa azul para tocá-la. As minhas mãos tremiam, o meu coração estava apertado ao máximo, pressionado por um sentimento de angústia e pavor crescente. Eu me lembrei então da minha chegada a Eldarya, aqui mesmo, na sala do cristal. Ainda me lembro do controle que ele exercia sobre mim. Eu estava subjugada pelo seu brilho, pela sua aura e pela sua grandeza. Dessa vez, eu não sentia nada. Ele não me dava vontade de tocá-lo ou de me aproximar. Ele tinha perdido todo o seu magnetismo. O grande cristal me parecia totalmente insignificante, uma mera peça de decoração.

Quando a minha mão entrou em contato com o cristal, as minhas suspeitas se confirmaram: havia algo errado. Ele estava tão frio quanto um bloco de gelo e a sua cor parecia insossa e insípida. O calor familiar característico do oráculo parecia ter sumido completamente. Parece que o cristal adormeceu. Estou realmente começando a ficar aterrorizada e estar aqui sozinha não me ajuda a me acalmar. Aliás, onde está a Miiko?! Ela também estava aqui, prisioneira do fio de luz do Ashkore. Aonde ela foi? Talvez ela tenha ido à enfermaria para cuidar das feridas. Não acredito que ela me deixou como morta aqui.

Sai da sala do cristal e andei pelo corredor da guarda, com suas cores quentes e vibrantes, tudo parecia como antes, excerto que não havia ninguém no corredor. Então cheguei à sala das portas, a mesma coisa. Só encontrava silêncio. Quando cheguei a enfermaria não me espantei em não encontrar ninguém. Não escuto nem o ruído dos mascotes. Isso não é normal... A Ewelein, Olohua, a Violine e até mesmo o Mathyz, não deixariam a enfermaria nesses tempos de crise. O que está acontecendo. Preciso encontrar alguém, qualquer pessoa.

Fui até o meu quarto e não encontrei nem mesmo o Draco. E apesar de chamar por ele, ele não responde. É muito estranho. Ele não costuma me ignorar. Sai de dentro do QG e andei pelos jardins, fui até o refúgio, ao mercado, e o mesmo cenário se repetia. Tudo deserto, silêncio profundo. Quando estava na fonte, tive a impressão de ver alguém, então corri. Segui o vulto até o refúgio, mas não encontrei nada. Devo ter imaginado.

Estou começando a me sentir muito sozinha, por que não tem ninguém aqui? Comecei a correr em desespero até os portões do QG e quando eu quis sair, senti uma barreira me impedir, seguida por um raio de luz ofuscante. Quando eu abri os olhos, estava novamente diante do portão. Me aproximei novamente, mais sutilmente dessa vez. Percebi que havia uma espécie de véu leve, frágil, instável.

Eldarya - Rota NevraOnde histórias criam vida. Descubra agora