Capítulo 3

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—O que acha de ir ao centro fazer compras? — perguntou com seu olhar sugestivo. 

 —Vamos! Eu posso levar um amigo? 

—Pode chamar o Bento — respondeu sorrindo. 

 —Como você sabia? 

 —Ora, ele é seu melhor amigo desde sempre. Todas as vezes que venho aqui vocês estão juntos. 

 Mesmo com a casa de Bento sendo ao lado da minha, corri com passos apressados, sentindo o vento bagunçar meu cabelo recém penteado, com alguns fios grudando da testa suada.Com três batidas rápidas na porta, tia Dulce atendeu sorridente, perguntando o motivo a agitação. 

 —Tia, o vovô vai me levar no centro. O Bento pode ir? —Perguntei unindo as mãos. 

 —Claro. Irei chamá-lo. 

 Enquanto tia Dulce caminhava pelo corredor, sentei-me ao lado do fogão a lenha ainda apagado. 

 Bento correu pelo corredor, compartilhando a mesma animação que a minha. Nós nunca conseguíamos ir ao centro, por conta da locomoção e os preços fora de nosso orçamento. Vovô cumprimentou Bento com um tapinha no ombro, logo bagunçando os cabelos enrolados dele. 

 Antes de partirmos, meu avô levou minha nova vaquinha para o pasto, e deixou-a amarrada com uma longa corda em um tronco. Eu e Bento subimos no cavalo, e vovô foi caminhando, até chegarmos na casa dele. 

Sua casa, diferente da minha, era grande, e ele criava diversos animais. Cavalos, vacas, peixes, ovelhas, coelhos, porcos, e muitos outros. Eu ainda não entendia por que minha mãe havia deixado tudo isso para trás. 

 Descemos do cavalo, e entramos no carro de meu avô. Um Miura Saga vermelho. Com o carro em movimento, o vento que corria contra o carro levantava meus cabelos. Caminhar entre as ruas de terra causava uma sensação única, no entanto, andar por elas de carro, sentindo a velocidade da brisa rebelde, era melhor ainda. 

Chegando ao centro, vovô estacionou e pulei do carro animada. Entrelacei meu braço com o de Bento, com alguns pulinhos escandalosos. 

 Tinham muitos homens vestidos iguais, de calça jeans, camisa de manga curta aberta e camiseta branca. Não entendia o motivo, já que o sol estava forte com um calor ardente. 

—Vovô — sussurrei. —Por que esses homens estão de blusa? Está muito calor.

 —Não faço ideia, não entendo a moda — vovô disse rindo. 

—Moda? Que coisa chata. Estou feliz por não entrar nela, assim não morro de calor — Bento respondeu. 

 As mulheres adultas usavam shorts coloridos que eram mais altos que sua cintura, com camisetas largas listradas e bem coloridas. Já as poucas meninas de minha idade, usavam vestidos lindos. Xadrez, ou com flores, ou com babados, jardineiras, era um verdadeiro arco-íris. 

 Escorei-me nos braços de Bento, sentindo-me diferente. Não havia ninguém com retalhos, ou vestidos manchados de sujeira. Não tinha nenhuma menina com os cabelos bagunçados, todos estavam arrumados em lindos cachos ou tranças. 

 —Ei, o que foi pinguinho? — Bento sussurrou. 

 —Não tem ninguém aqui tão desarrumado quanto eu. 

—Para com essa história, pinguinho. Já falei, não precisa ser igual a ninguém. Cê é linda. 

 —Mas cê disse que pareço uma boneca de sabugo de milho. 

 —É a boneca de sabugo de milho mais linda que eu já vi — Bento respondeu gargalhando. 

 Conforme caminhávamos, me soltava aos poucos. Todos estavam ocupados demais para reparar em uma simples criança da parte rural da cidade. Cada passo era uma provocação vinda de mim ou de Bento, algumas cotoveladas, um leve chute no pé, e certos apelidos carinhosos. 

Desenhos de uma SinaOnde histórias criam vida. Descubra agora