Capítulo 11

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Na manhã seguinte, as férias começariam oficialmente. Fui chamar Bento logo cedo para pegar leite da Bolinho e distribuir na vizinhança.

Aproveitamos e tomamos o café da manhã juntos com o famoso bolo de cenoura da tia Dulce.

—Pinguinho, eu vou viajar em dois dias, e eu pensei em algumas ideias para fazer esses dois dias só nossos. O que cê acha?

—Podemos ir nadar no rio da cachoeira, fazer piquenique no clube da felicidade, brincar com a Bolinho e com a Lili, brincar de pega-pega, pique-esconde, empinar pipa, e o que mais?

Várias ideias nasciam. Eu esperava que todos esses planos me convencessem a ficar.

—Então vamos logo! — Bento puxou minha mão ansioso.

Corremos pela rua em direção a vendinha, juntamos o dinheiro que havíamos guardado e compramos paçoca, kinder ovo, algodão doce, chocolates, salgadinhos, sorvete e doce de leite de saquinho.

Andando pelo caminho de volta para casa, passamos pela praça onde a maioria das pessoas de nossas salas estavam reunidas. Bento fora chamado para jogar bola, porém recusou para ir comigo.

Antes que pudéssemos sair de perto deles, Isa puxara meu braço, exibindo seu sorriso encantador que enganava qualquer um.

—Já devolvo sua amiga, Bento.

Isa estava reunida com a maioria das meninas da escola, ela chamou sua irmã e as duas entrelaçaram os braços nos meus.

—Aurora, me desculpe por ontem — Luiza começou —queria esquecer tudo isso e ser sua amiga, o que você acha?

—Eu... ah, tudo bem.

—Certo, como amigas, e como sou mais velha, posso te dar um conselho? — continuou Isabela.

—Acho que pode — respondi desconfiada.

—Já reparou que o Bento recusa a maioria das brincadeiras para ficar com você? Não acha que é egoísmo de sua parte o deixar preso? Uma hora ele pode acabar cansando e deixar de ser seu amigo.

—Ele brinca com quem ele quiser, não sou eu quem pede para ele não ir.

—Aurora, não finja que não percebe que ele tem pena de você — Luiza respondeu pela irmã.

—Eu preciso voltar, tchau — respondi por fim sem dar continuidade ao assunto.

Eu esperei o dia todo para sentir algo que me prendesse ao meu lar, mesmo sabendo que isso não aconteceria.

Tomar uma decisão nos momentos em que minha cabeça criava vozes irreais foi o meu maior erro. Erro esse que perdurou por bastante tempo

—Bento! — tentei sorrir ao entrelaçar meu braço com o dele.—Vamos? O dia será cheio. Eu só preciso passar em casa rapidinho.

Encontrando minha mãe, pedi a ela que conversasse com tia Liz, e não contasse para ninguém, muito menos para Bento, a quem prometi não ir embora.

Saindo de casa e o observando arrumar a cesta de piquenique, senti o peso da mentira. Como uma criança de oito anos poderia entender tudo o que estava acontecendo?

—Vem, pinguinho!

Durante o resto do dia, lutei contra o choro e forcei um sorriso. Mal sabia que esse iria tornar-se meu passatempo.

Na hora da janta, tia Dulce havia feito sopa de feijão. Cada colherada era um segundo a menos, cada tic tac do relógio de cavalo, fazia com que minhas pernas tremessem.

—Bento, leve Aurora para casa, está tarde. Amanhã vocês brincam mais.

Lavamos os pratos que usamos e saímos. Caminhávamos devagar até minha casa. O vento balançava as folhas das árvores, e algumas voavam seguindo-o.

Desenhos de uma SinaOnde histórias criam vida. Descubra agora