Capítulo 13

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O Fiat Palio vermelho deu partida. Através do vidro, dois pares de olhos tristes me encaravam e acenavam. Acenava para minha mãe e meu avô exibindo meu melhor sorriso.

As gotas de chuvas escorriam pelo vidro, e a melhor distração que eu encontrei, foi tentar achar desenhos formados por elas.

Meus olhos foram fechando-se aos poucos e encostei a cabeça no vidro permitindo-me cair em um sono profundo. Depois de um pouco mais de duas horas de viagem, o carro fora estacionado.

O céu estava cinza, porém não chovia. O ar era pesado e abafado. Diferente do campo, florido e colorido, a cidade de São Paulo possuía menos cores. Apesar das árvores na calçada, os prédios e carros coloridos, eu sentia falta da estrada de terra e das inúmeras flores pelo caminho.

Desci do carro já pegando as minhas malas. A casa de minha tia era muito diferente da que eu vivia. Era envolta de um muro cinza com algumas pedras, e seu portão era de grade. Contava com uma decoração em gesso pelo contorno da grade.

Um pequeno gramado estava na frente da casa, no entanto, parecia sem vida, assim como as poucas rosas brancas que o enfeitavam.

Ainda na entrada, as janelas também possuíam o contorno em gesso e a cor da casa era azul claro. Em frente a porta de madeira, que dava entrada na sala, havia um tapete preto cheio de pelinhos brancos.

Entrando pela sala, o piso era de madeira e a cor da sala assim como a dos outros cômodos era branca. O sofá posicionado ao canto direito era de cor preta, coberto por uma colcha bordô. No móvel de madeira em frente ao sofá, estava uma televisão de tubo preta em cima de uma toalha feita de crochê. Logo ao lado direito, uma fotografia de tia Liz e minha mãe crianças. Do lado esquerdo, um telefone verde.

Uma pequena parede separava a sala da cozinha. Passando por ela, havia um filtro de barro, uma geladeira branca, um fogão de quatro bocas e uma mesa de madeira com quatro lugares. Os armários eram brancos com puxadores de madeira. Nas janelas de vidro continham grades e uma cortina branca.

O banheiro da casa era o único cômodo que não estava de branco. Ele era coberto por azulejos marrom claro, da mesma cor da privada e da pia. O box era muito grande, recheado de produtos que eu não conhecia.

Ao lado do banheiro estava o quarto de minha tia, branco com um guarda-roupa de madeira, uma penteadeira branca e uma janela de vidro sem cortinas. Não continha nenhuma decoração, nada diferente, a não ser pela pilha de papeis espalhados pela cama junto com sua mala de trabalho.

Do lado oposto, estava meu quarto, um quarto somente meu! Ele também era branco e sem graça. Tinha uma janela de vidro com uma cortina rosa claro, uma penteadeira com alguns produtos embalados, um guarda-roupa de madeira igualmente o de minha tia, e uma cama de solteiro no centro, com roupa de cama cor de rosa.

A casa toda cheirava a naftalina.

Carreguei minhas malas até meu quarto para organizar tudo. Abrindo o armário para guardá-las, ele estava recheado de roupas novas e sapatos.

—Gostou da surpresa? — tia Liz perguntou sorridente.

—Eu amei!

—Aqueles produtos embalados na sua penteadeira são novos também. Tem maquiagem, perfume, hidratante e coisas de cabelo. Logo eu ensino você como usar. Ah, se arrume, vamos passear hoje.

Minha tia morava na zona central de São Paulo. Ficava próximo a vários prédios altos, escola, lojas e do metrô.

Tudo era muito diferente e assustador.

Enquanto eu estava acostumada a andar pela estrada de terra, lá era diferente. O odor de sabão de coco com terra molhada, fora substituído por cheiro de naftalina e fumaça. As pessoas que andavam sorridentes nas ruas, foram transformadas em faces apressadas e impacientes. Minha casinha colorida de madeira fora deixada por uma casa confortavelmente maior, porém, sem cor alguma.

Todas as minhas roupas já estavam no lugar, assim como minhas fotos já espalhadas na penteadeira, junto com meus materiais de desenho.

Peguei minha toalha e me dirigi ao banheiro. Tomei um longo banho quente, e ao sair, coloquei meu melhor vestido. Era azul com um laço branco. Tia Liz me ajudou secando meu cabelo e passando um gloss de morango nos meus lábios.

Ela vestia uma calça jeans escura com uma camisa vermelha. Seus cabelos bem ondulados estavam sendo empurrados para trás com um par de óculos de sol.

Já passava das quatro horas da tarde, então fomos tomar café em uma cafeteria perto de casa. Ela pedira um café puro com pão de queijo, eu pedi um milkshake de chocolate para experimentar, e tomei com tanta voracidade que fez minha tia rir.

Passamos o resto dia passeando. Ela me explicou que eu não poderia mais andar sozinha e me aconselhou caso me perdesse alguma vez.

A cidade era realmente muito grande e eu não saberia andar sozinha por ali. Além do mais, eu não estaria acompanhada de meu melhor amigo.

Quando a noite chegou, o céu não era estrelado e a lua quase não era vista. Pegamos um ônibus e fomos até uma pizzaria antiga, onde minha tia me levou para comer pizza. O lugar em volta sempre fora muito movimentado, com lojas por todos os lados.

Assim que chegamos em casa eu fui direto dormir, sem trocar de roupa ou sequer escovar os dentes. O cansaço era tanto que pela primeira vez eu não pensei em minha casa antiga, ou em Bento.

O medo da mudança era tanto que me impedia de ver as coisas boas. Mudar seria sim doloroso, mas eu não podia negar que seria divertido.

Eu era uma menina com os pilares construídos no interior, alguns blocos foram rachados e quebrados por pessoas que eu queria somente o afeto. No entanto, aquela garota de oito anos faria sua desconstrução, quebrando cada peça para reconstruir a si mesma.

~

Na manhã seguinte, os pássaros não cantavam e nem o galo. A "cantoria" matinal era feita por escapamentos de carros apressados e a televisão ligada na sala.

Enquanto minha tia passava o café em um coador de papel, era transmitido na televisão o jornal regional, que todo dia começava as sete e meia da manhã.

—Bom dia, Aurora!

—Bom dia, tia — respondi bocejando.

—Eu vou precisar sair. Tenho uma reunião com os professores da escola, e assim que ela terminar, eu volto. Tudo bem se você ficar aqui?

—Tudo certo.

Ela virou uma caneca de café de uma só vez, disse que trancaria toda casa e saiu.

Eu ainda estava tomando meu café com leite e comendo a bolacha de leite em cima da mesa. Lavei o que fora usado, e tirei a roupa da noite anterior.

Na televisão já passava o programa "Xou da Xuxa" no canal 05, que era a "Rede Globo". Assisti até que minha tia voltasse. A Xuxa cantava "Coração criança" e eu saltitava no ritmo da música.

—Parece que alguém gosta de música — comentou tia Liz ao entrar em casa.

—Gosto sim!

—A reunião acabou mais cedo. Estou indo buscar o almoço. Quer vir comigo?

—Vamos!

Andar por aquelas ruas era divertido. Tudo tão grande e novo, um desenho cheio de traços. Para aproveitar mais o passeio, minha tia mostrou cada rua e foi me ensinando o caminho de casa.

Paramos em uma padaria e compramos frango assado com arroz e batatas. Tudo fora embrulhado para comermos em casa.

O gosto da comida também tinha detalhes diferentes, e com certeza a comida feita no fogão à lenha faria falta. Os temperos colhidos diretamente da horta também carregavam seu sabor único.

Durante o decorrer do dia conheci mais sobre a cidade grande, e eram incontáveis os lugares que eu gostaria de conhecer.

Desenhos de uma SinaOnde histórias criam vida. Descubra agora