Capítulo 19

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Saí pela porta e corri para casa. Mesmo ofegante e com os pés doendo, não desacelerei nem por um segundo. Minha cabeça doía e a boca estava seca. Parece que o "medo" de ter feito algo errado chegara, junto com oarrependimento.

Antes de virar na rua de casa, sentei-me em um banco debaixo de uma árvore. Deixei que todas as lágrimas escorressem junto com os soluços engolidos.

Culpei-me por ser fraca, por ter deixado quem eu era e por ter sido quem um dia fui. Senti nojo de ter feito tudo o que fiz naquela noite, bem como as coisas que fizera nas noites anteriores.

Bastou uma fagulha para que tudo explodisse.

—O que você quer de mim? — gritei olhando para o céu. —Théo costumava dizer que tudo tem um motivo. Você fez tudo isso para me machucar? Eu cansei de tentar entender, e cansei de acreditar que você existe. Se você existisse não deixaria as coisas serem assim.

Cada palavra era acompanhada de uma enxurrada que descia pelos olhos.

—Eu pedia todas as noites para ser feliz. Você me escutava? — minha fala tornara-se mansa. —Por que nem minha mãe biológica me quis? Por que me tratavam daquele jeito? Por que eu me tornei quem eu quis e não me sinto feliz? Eu quero acreditar que você é real, então me ajuda. Eu imploro.

Terminando minha prece, continuei andando até chegar em casa. O amanhecer me acompanhava, junto com a chuva leve.

Estranhei ao ver o carro novo de vovô parado em frente de casa. Aproximei o ouvido da porta antes de entrar, e minha mãe estava aos prantos, da mesma forma que minha tia.

Sabendo da bronca que levaria, girei a maçaneta com hesitação. Quatro pares de olhos me olhavam sem qualquer expressão.

—Onde você estava? — gritou tia Liz. —Eu procurei na casa de todos os seus amigos, nas locadoras de filme, lanchonetes, pizzarias, e não a encontrava.

—Você sabe que eu saio com meus amigos de sexta, e eu aviso você que chego tarde — respondi sem coragem de olhar os olhos dela.

—Você chega no máximo uma da manhã. E você sempre disse sair para pizzarias e lanchonetes. Onde você estava? — tia Liz pergunto novamente.

—Aurora, olhe para mim — minha mãe chamou com a voz baixa ao aproximar-se. —Por que está com cheiro de bebida? Aonde foi com seus amigos? Por que não avisou nada?

—Derrubaram bebida em mim, eu não sabia o que era também. E não pensei que fosse chegar tarde — respondi envergonhada.

—Vai continuar sem dizer a verdade? — minha mãe passou a gritar com lágrimas escorrendo por seus olhos.

—Eu sinto muito — respondi com a voz embargada.

—Nós sempre deixamos você livre. Confiávamos em você. É assim que retribui?

—Mãe, eu não fiz nada demais — respondi revirando os olhos, tentando me manter forte.

—Se não tivesse sido nada demais não estaríamos aqui. Estou decepcionada, Aurora — minha mãe disse entre lágrimas.

—Se me der licença, estou com sono — respondi inexpressiva.

Antes que eu pudesse virar, minha mãe segurou meu pulso com força obrigando-me a olhar para ela.

—Eu sou sua mãe, e exijo respeito — tornou a gritar.

Théo levantou-se e colocou sua mão sobre a dela.

—Cora, é melhor deixá-la. Não vai adiantar conversar agora. A deixe descansar, e nós também descansaremos.

—Obrigada, pai.

Desenhos de uma SinaOnde histórias criam vida. Descubra agora