Capítulo 49

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A noite chegou nos presenteando com vários vagalumes, deixando o ambiente do casamento ainda mais lindo.

Os violeiros tocavam músicas sem parar, com todos os convidados dançando. Bento me puxara para dançar, passamos horas rodopiando até que meus pés doessem, e mesmo que ele não soubesse nada sobre dança, continuava ao meu lado gargalhando e tentando me acompanhar.

Conforme o tempo passava, os convidados iam se cansando, o que levou as músicas serem mais lentas. Bento passou seus braços pela minha cintura, e eu levei os meus até seu pescoço, entrelaçando meus dedos em sua nuca. Continuávamos a dançar em silêncio, desfrutando da companhia e nos permitindo sentir o toque um do outro.

Deitei minha cabeça em seu peito. De longe, Eva olhava para mim sorridente, e eu imaginava que ela estivesse feliz por me fazer prometer conversar com Bento.

As mãos de Bento acariciavam minhas costas. Vez ou outra, elevava meus olhos em sua direção, e o mesmo permanecia com os olhos em mim. Sua pupila estava dilatada, e seu riso fraco.

—Vamos andar um pouco? — perguntei.

Concordando com a cabeça, ele passou o braço por minha cintura, e seguimos abraçados.

Andamos sem rumo e em silêncio, somente acompanhados pelas cigarras, as estrelas, e uma lua encoberta. Era um silêncio agradável.

—Obrigada por não desistir de mim — murmurei.

—Como assim?

—Mesmo indo embora, mais de uma vez, e tentando ao máximo evitar você, você ainda voltou.

—Eu quem agradeço, por me deixar conhecer essa mulher que cresceu, e por eu ter a chance de me apaixonar por você mais uma vez.

Nos sentamos em um banco de ferro pintado de branco, com algumas partes comidas pela ferrugem. Deitei minha cabeça em seu colo, enquanto sua mão embrenhava em meu cabelo.

Não demorou muito para que nossos lábios se unissem mais uma vez.

Não parecia real. Um dia, aquele menininho era meu melhor amigo, que me irritava e ao mesmo tempo me protegia de todas as formas. E em um piscar de olhos, tornara-se um homem que carregava sobre si as marcas de uma juventude árdua, e mesmo assim, não permitiu que suas dores o fizessem desistir, nem tirar aquele sorriso único que pertencia só a ele.

Ele era meu passado e meu presente. Quem fazia-me acreditar em algo melhor. Minha história ainda estava sendo desenhada, e Bento era uma das pinturas mais belas.

Com um último beijo nos despedimos.

—Até amanhã, pinguinho.

—Até amanhã.

Aproveitei o momento sozinha para pensar em tudo o que acontecera, e buscar a gratidão através daquilo que me machucava.

—Olá. Espero que me escute — disse olhando para o céu, esperando que Deus pudesse me escutar. —Eu sei que muitas vezes duvidei de você, coloquei a culpa das minhas frustrações em você, e deixei você de lado. Eu queria pedir desculpa, e te agradecer. — Respirei fundo e limpei a lágrima que escorreu pelo canto do olho. —Talvez aquela dor que senti quando criança foi o que me levou para a cidade, e o que me fez crescer. Talvez eu não tenha sido aprovada no concurso, porque você tem outros planos. E preciso dizer que, eu não suportaria ficar longe deles, então até que foi bom eu não ter passado. Me ajude a entender melhor seus planos, e confiar mais. Ah, e obrigada pela minha nova família.

Voltei para a fazenda e todos os convidados já tinham ido embora. Rute e sua família estavam se acomodando dentro da fazenda, e meus pais estavam dançando do lado de fora, sem música alguma, somente abraçados.

Corri até eles e os abracei com força. Fiquei no meio deles dançando junto. Permanecemos os três abraçados por bastante tempo, até que o sono nos fizesse parar.

Adormeci ainda com o vestido da festa, o cabelo feito e a maquiagem. O cansaço era tanto que me deitei na cama e não me lembro nem de ter tirado os sapatos.

~

Acordei desnorteada, com a luz do sol em meu rosto. O vestido estava amassado, igual ao meu cabelo. A tiara de flores estava caída no chão, junto com os sapatos.

Me levantei devagar e em silêncio para que ninguém acordasse, porém, os ouvi conversando na sala e fiquei escorada na porta.

—Eu tentei preparar Aurora para quando ela soubesse — disse meu pai.

Franzi o cenho confusa, me perguntando para que ele estava me preparando

—O que você disse a ela? — Eva perguntava preocupada.

—Foi no dia em que ela e Bento haviam terminado. Levei ela para cavalgar, e contei uma parte da nossa história, mas não disse nomes e me coloquei em posição de um amigo conhecido.

—Quando acha que devemos contar? — perguntou minha mãe.

—Se falarmos de uma vez, ela pode se assustar — interferiu Rute.

—Preparamos ela esta semana e contamos. — completou meu pai.

—Como acha que ela irá reagir? — minha mãe perguntou, preocupada.

Bufei impaciente por estarem escondendo algo de mim. Empurrei a porta do quarto com força os assustando e pisei forte até a sala onde estavam reunidos.

—Como eu vou reagir a que? — perguntei cruzando os braços.

Naquele instante, todos pareciam ter desabado em lágrimas, exceto pelo meu avô, que escondeu o rosto entre as mãos.

Alguém bateu na porta chamando nossa atenção. Bento estava acompanhado de Dora e Levi, que apareciam na janela.

—Entrem — respondi seca, sem os olhar.

—O que aconteceu? — Bento perguntou atônito.

Ignorei sua pergunta, e novamente os questionei.

—O que vocês estão me escondendo? — falei alto.

—Ah meu Deus — comentou Dora.

Soltei um riso nasalado, carregado de escárnio.

—Não vai me dizer que você também sabia.

Dora e Levi olharam para Bento, que fixou seus olhos aos meus. Suas mãos tremiam e sua mandíbula estava forçada.

—Eu não acredito — resmunguei.

Bento caminhou devagar e pôs sua mão em meu ombro, imediatamente, me desvencilhei de seu toque.

—Pinguinho...

—Meu nome é Aurora — o cortei.

—Não os culpe, Aurora — disse meu pai com seriedade.

—E então, vão me dizer?

Meu pai se levantou e colocou-se em minha frente. Tocou meu rosto, e não escondeu as lágrimas.

Eva também se levantou e colocou-se ao lado de meu pai.

—Eu sou seu pai, e a Eva é sua mãe.

Desenhos de uma SinaOnde histórias criam vida. Descubra agora