Capítulo 44

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—Confesso que achei melhor do que o original — disse Théo.

Era sábado. O relógio marcava três da madrugada, e eu estava terminando outra vez o que eu iria apresentar. Soltei o ar aliviado por ter conseguido.

Tia Cora passou em minha casa sem que eu soubesse e me levou algumas roupas na noite anterior. Apesar de estar me sentindo sozinho, perdido, e assustado, eu precisava continuar.

—Por que ainda está acordado? Você deveria dormir para dirigir.

—Eu estou aqui para te ajudar, Bento. Você não precisa fazer tudo sozinho, nem aguentar tudo.

—Acho que terminei tudo, vou limpar tudo e dormir.

—Não precisa, limpamos na volta. Vá dormir.

Me deitei no sofá da sala tentando pegar no sono, mas até que ele viesse, um choro fraco e suave me atingiu. As lágrimas corriam conforme eu me perdia, e finalmente consegui dormir.

~

—Meu Deus, parece que você apanhou. Seu olho está inchado, rosto vermelho, nariz mais ainda. — disse Théo me acordando

—Bom dia para você também.

Tomamos um café rápido e eu corri para me arrumar. Não fazia ideia de que roupa usar para o evento, nem sapato, muito menos como me portar.

Dentro da sacola que tia Cora trouxera, havia um embrulho com um bilhete. No embrulho prateado, estava uma camisa azul marinho dobrada, e passada. O bilhete dizia: "para o seu dia especial. Você merece, e vai conquistar seus sonhos. Com amor, mamãe."

Vesti a camisa que serviu bem, porém quase ficou apertada no tronco. Dobrei as mangas até o cotovelo. Coloquei uma calça jeans preta e um sapato também preto.

Não fazia ideia se estava apropriado, se sentiria calor, se estava arrumado demais, ou desarrumado.

Théo vestia quase a mesma coisa, trocando somente a cor de camisa, onde ele usava cinza escuro.

—Acha que está bom assim? — perguntei inseguro.

—Não faço ideia. Descobriremos lá — respondeu rindo despreocupado.

Buscamos tia Cora e seguimos viagem. De repente, todo meu corpo parecia coçar, minhas mãos suavam, meus pés não paravam quietos, e tudo o que era para ficar em silêncio na minha cabeça, passou a fazer barulho.

—Bento, tente dormir um pouco, ainda faltam duas horas para chegarmos — falou tia Cora preocupada.

—Não consigo.

Fiquei apoiado na janela do carro, fazendo inúmeras orações, as quais eu não fazia a muito tempo, e não me sentia digno para falar com quem as ouvia.

Nunca desejei tanto para que o tempo congelasse. Um dia que eu ansiei tanto para chegar, mas me assustava. O medo de que um pequeno erro acabasse com tudo fazia-me questionar se meu pai não estava certo. Além do medo, estava preocupado com Aurora.

Estacionamos o carro em uma praça que ficava em frente ao local do evento. Era uma construção enorme de cor bege, com várias pilastras ornamentadas.

Jovens de diversos estilos entravam por aquelas portas, acompanhados de familiares e professores, carregando obras de arte cobertas com panos. A maioria usava roupa social, outros já estavam mais simples.

De longe encontrei tia Liz correndo, Rute tentava acompanhá-la.

—O que aconteceu? — perguntou tia Cora, preocupada.

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