Faltavam exatas vinte e seis horas para começar na nova escola. Diferente da escola que eu frequentava no interior, a nova era particular, com uso obrigatório de uniforme, e a escolha de uma atividade extracurricular após a aula.
Minha tia dava aula de português e matemática, as matérias com mais aulas, e por conta disso ela quase nunca parava em casa. Lecionava português para o ginásio e matemática para o colegial.
Acordamos cedo para ir pegar o uniforme na costureira, ele precisou de ajustes para me servir. O uniforme padrão que as meninas usavam era uma camiseta branca com o nome da escola no canto superior esquerdo, uma saia vinho e meias brancas.
De início o achei sem graça, não havia mais do que três cores, sendo elas o branco, preto e vinho.
Meu maior medo era enfrentar os ocorridos anteriores, que fizeram com que eu me mudasse. Para evitá-lo, mesmo muito nova cedi à vaidade. Implorei para que minha tia pintasse minhas unhas e me ensinasse como usar maquiagem.
No dia que fui conhecer a escola, ela estava vazia em decorrência das férias. Logo na entrada havia um enorme gramado com algumas árvores e uma fonte. Era dividida em dois andares, sendo o primeiro andar para os alunos do primário, que era da primeira à quarta série, com uma quadra e um refeitório, e o segundo andar para o ginásio e colegial, havendo uma biblioteca e laboratórios.
Atrás da escola continha um estacionamento para os funcionários, área de recreação e uma horta.
Os banheiros localizados ao final de cada corredor eram impecáveis.
~
As seis horas da manhã, tia Liz entrara em meu quarto, acordando-me cuidadosamente. Tomei um banho um pouco sem ânimo, e comecei a me arrumar.
Vesti o uniforme, as meias e o sapato preto. Mantive o cabelo preso em uma trança com um laço na ponta. O gloss de morango estava sempre presente em meus lábios. Avermelhei as bochechas com um pouco de blush e borrifei perfume nos pulsos.
A imagem refletida no espelho da penteadeira não mostrava mais a menina sapeca, que usava roupas coloridas para estudar, uma mochila rasgada e chinelos gastos. Não refletia mais a doçura de uma criança travessa. Aquela menina que eu via escondia suas marcas, e jurou para si mesma que se tornaria outra pessoa.
—Vamos, Aurora?
—Vamos. Vou pegar minha mochila.
Minha mochila nova era rosa claro, com um chaveiro de pompom no zíper. Os cadernos novos eram da mesma cor, assim como o estojo e os lápis.
Entrando na escola, minha tia levou-me até a sala. Minhas pernas bambeavam e as mãos suavam, os pensamentos estavam tão embaralhados quanto as palavras que eu tentava dizer.
Sentei-me ao fundo da sala, longe dos poucos alunos que estavam na classe.
—Olá! Qual seu nome? — perguntou o menino sentando-se em minha frente.
—Aurora, e o seu?
—Me chamo Noah, e estudo aqui desde sempre, então se precisar de ajuda é só me chamar.
Noah era alto, o que o fazia parecer mais velho. Sua pele era bronzeada, e seus cabelos não eram curtos, evidenciando que estava sem cortá-los por um bom tempo. Seus olhos eram esverdeados.
—Vem comigo, vou apresentar você para o resto da turma — Noah disse puxando minhas mãos.
Paramos ao centro da sala onde estavam todos reunidos. Noah chamou a todos e disse meu nome, minhas bochechas queimavam, e eu lutava contra a timidez.
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Desenhos de uma Sina
RomansaAurora é uma jovem que cresceu sem saber a verdade sobre seu passado. Encontrada entre as folhas, diante do amanhecer. Bento fora seu melhor amigo, seu confidente, e muitas vezes seu herói. Viver todos os dias entre o conflito do medo e da coragem...