Capítulo 56

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—Eu não consigo — Isabela disse nervosa.

Na manhã seguinte, contei a ela sobre a conversa com João. Encontrei o mesmo quando fui comprar pão com meu pai, e perguntei se ele morava no mesmo endereço, que afirmou nos convidando para encontrá-lo.

Isabela estava determinada a ir até ele, no entanto, assim que ficou pronta começou a procurar todas as desculpas possíveis para não ir.

—Mas que droga. Eu tenho vinte e quatro anos e me sinto uma adolescente de quinze.

—Você tem ideia de que lida com animais selvagens diariamente? Chega perto deles como se tivessem sua altura. Está nervosa para ver João? Pelo menos faça por seu cachorro que deve sentir sua falta.

—No começo eu tinha muito medo — murmurou. —Depois de alguns meses me acostumei, mas levou tempo para que os animais fossem cativados e confiassem em mim — disse mais baixo ainda, enquanto encarava seu reflexo no espelho.

Sentando-se ao meu lado na cama, tornou a falar.

—Se eu sumisse por mais de um mês que é meu período de férias, se eu deixasse de cuidar deles, os alimentar, fazer carinho, por anos, eu viraria uma estranha.

Comecei a gargalhar. Queria segurar, mas não fora possível.

—Está comparando sua relação com o João, a um animal?

—Não! Estou tentando explicar que estou nervosa, independente das coisas que eu vivo no meu dia a dia. Me causam sensações diferentes.

Ela se levantou, e mais uma vez determinada a ir. Colocando um chapéu e um óculos, saiu na rua de cabeça baixa.

—O que faremos hoje? — perguntou Pedro. —É meu último dia aqui, amanhã vou embora.

—O que quer fazer?

—Pode me mostrar os lugares que ia quando mais nova. Depois podemos almoçar e de tarde eu ainda não sei.

Como estávamos prontos, fomos direto para a igreja. Minha mãe estava na frente ao lado de tia Dulce e outras senhoras, algumas acompanhadas de seus maridos. Levei Pedro até a sala das crianças, onde meu pai dava aula aos domingos. A igreja havia sido reformada, exceto pelo desenho que fiz na parede.

Meu pai me apresentou para as crianças, que me chamavam de "tia", fazendo-me sentir mais velha ainda. Elas ficaram encantadas em saber que a tão falada pintura de borboleta na parede havia sido feita por mim.

Aproveitando que Pedro tocava violão, ele tocou e cantou uma música para as crianças.

Terminando o culto, meus pais ficariam para ajudar, o que nos deixou livre para almoçarmos. Fomos no restaurante de tia Dulce para almoçar e pedimos macarrão com frango. Ela estava muito abatida e seus olhos cansados.

—Precisa de ajuda na cozinha hoje? — perguntei.

—Não.

—Parece tão cansada, não quer mesmo? O que aconteceu?

—Não é nada, é só o... — Ela parecia receosa em falar.

—O Bento — respondi por ela.

Pedro pareceu estar mais interessado ainda na história, visto que arregalou os olhos.

Abelhudo.

—Eu sei que ele nunca come as marmitas que faço para ele, mas se ele continuar assim, vai ficar doente. A vida dele é aquele escritório, está quase igual ao... pai dele. Eu mesma fui entregar o almoço depois da igreja, ele não me recebeu muito bem.

Desenhos de uma SinaOnde histórias criam vida. Descubra agora