Capítulo 47

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Faltavam pouco mais de vinte e quatro horas para o casamento. O relógio marcava onze horas da manhã, e o sol estava queimando.

Separei alguns baldes com shampoo específico para a Bolinho e Lili. Peguei algumas toalhas, mangueira, um hidratante, uma escova e um pente. Levei tudo para o curral e comecei a preparar o banho.

Antes de dar banho nelas, lavei todo curral, e pedi ajuda do meu avô para capinar a grama em volta.

Estava sozinha outra vez, já que todos saíram para resolver os últimos detalhes do casamento. Fiquei cantarolando todas as músicas que escutava quando criança, enquanto escovava os pelo da Lili.

—Precisa de ajuda? — perguntou Bento chegando por trás de mim.

—E o trabalho?

—Fiz tudo por hoje, tenho o resto do dia livre.

Joguei o pente para ele, pedindo que começasse a pentear os pelos da Bolinho.

Diluí um pouco do shampoo na água e derramei devagar em ambas. Começamos a esfregar com os dedos até fazer espuma.

—Tem certeza de que ela não vai me dar um coice, não é?

—Tenho! Ela é um amor, não faria isso. E você ainda cuidou dela quando eu não estava.

Vez ou outra, nos provocávamos jogando água um no outro.

As enxaguamos e ensaboamos mais uma vez, e repetimos o mesmo processo uma terceira vez. Depois de secarmos, passei o hidratante no focinho das duas, e estavam prontas.

Tanto eu quanto Bento, estávamos mais molhados que minhas vaquinhas.

Descansei deitada no gramado enquanto Bento fazia o almoço.

Sentia saudade da minha vida daquele jeito. De acordar com os galopes de cavalo, com os pássaros e o cheirinho de café coado no pano. Sentia falta do cheiro de capim, goiaba, manga e sabão de coco, igualmente as flores que coloriam meu lar.

Minha única preocupação era cozinhar e cuidar da Bolinho e Lili. Não existia mais afazeres da escola, comitê de formatura, provas a cada mês, ou me forçar a estudar em qualquer momento livre. No entanto, eu sabia que precisava correr atrás de novas preocupações, das quais eu não fazia ideia de como começar.

Nos últimos meses, deixei alguns currículos em restaurantes e lanchonetes, frisando que seria minha primeira vez. Mantive essa ideia em segredo, como uma escolha sobressalente.

—Pinguinho! — gritou Bento me fazendo abrir os olhos. —Vem almoçar.

Almoçamos macarrão alho e óleo, com suco de laranja. Depois, passamos a tarde subindo nas mangueiras para comer manga, e fomo até o riacho lavar o rosto.

Os últimos raios do pôr do sol transpassavam as árvores, refletindo na água. Sempre era a mesma paisagem inesquecível, e sempre me causava a sensação de surpresa por existir uma paisagem tão linda.

Fiquei apoiada em uma árvore, observando Bento sair da água. Seu cabelo molhado deixava seus cachinhos mais evidentes. Era inevitável notar o tanto que ele estava diferente. Seu rosto estava avermelhado pelo sol, bem como seus ombros. Continuava alto e com aquele sorriso de menino travesso. Ele havia se tornado um homem, despertando em mim sentimentos alvoroçados e pouco explorados.

Ele parou em minha frente e chacoalhou o cabelo, deixando respingar as gotas geladas em meu rosto.

—Ah, Bento! Eu já estou seca e com frio — respondi cruzando os braços.

Ele estendeu os braços, e uniu seu corpo molhado ao meu. Não tive como sair, já que minhas costas estavam pressionadas no tronco da árvore.

—Eu disse que estou com frio — sussurrei.

Desenhos de uma SinaOnde histórias criam vida. Descubra agora