Capítulo 32

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Voltando ao trabalho, os bolos eram vendidos sem demora. Recebi muitos elogios, e alguns conhecidos vieram me cumprimentar.

Os bolos acabaram em apenas duas horas de festa. Após organizar a barraquinha, guardei todo dinheiro arrecadado e entreguei para minha tia.

A quadrilha dos jovens fora anunciada e, com tamanha afobação de meus amigos, já estávamos posicionados antes mesmo de tia Dulce trazer o resto do pessoal. Por entrar na frente, o nervosismo tomava conta, assim como a animação.

Sem permissão, certas memórias inquietas voltaram de forma sorrateira. Apertei os olhos com força tentando expulsá-las, contudo, o choro da pequena Aurora fora mais alto.

Havia uma enorme fila de meninas para falar com a organizadora da festa junina. Em alguns anos eu tinha a sorte de tia Dulce a responsável, só que, daquela vez, fora uma das professoras da escola municipal da vila.

Em 1987, com meus cinco anos de idade, sempre quis ser a noivinha da quadrilha. Junho era um dos meus meses favoritos, e logo que começavam a mencionar a festa junina, eu criava coragem para pedir para puxar a quadrilha.

Quando juntei toda a coragem que eu tinha, decidi enfrentar a fila das meninas para falar com a organizadora. A maioria estava ali para pedir o mesmo que eu.

—Vai tentar pedir de novo para puxar a quadrilha? Cê nem vai conseguir mesmo — dizia Luiza rindo.

—Cê também nunca foi — respondi cruzando os braços.

—Por que iriam escolher uma menina feia e burra? Não acha que a noivinha tem que ser bonita e inteligente?

—O que você está fazendo, Luiza? — perguntou Isabela encontrando a irmã.

—A Aurora quer pedir para ser noivinha de novo — respondeu rindo.

Em um súbito movimento impensado, chutei sua canela fazendo-a chorar. A professora que estava tomando conta, levantou-se de sua mesa furiosa, perguntando o que estava acontecendo aos berros.

—A Aurora chutou minha irmã, professora. Só porque ela também queria ser noivinha este ano — respondeu Isabela sem deixar que eu me defendesse.

Meus olhos encheram de lágrimas, e antes mesmo que eu pudesse dizer o que aconteceu, a professora começou a gritar comigo.

—É deste jeito que quer ser noivinha? Chutando sua amiga?

Eu voltei correndo para casa e chorei sozinha em meu quarto sem coragem de contar para minha mãe.

Bento acabou descobrindo enquanto caminhava e escutou o ocorrido assim que passou pelo campinho.

—Pinguinho, cê está escondida? — disse entrando no meu quarto.

—Não quero conversar.

—As meninas me chamaram para ser o noivinho da quadrilha das crianças.

—Cê vai?

—Claro que não pinguinho. Alguma vez já dancei sem você?

Sem responder, abracei Bento que sorriu.

No ano seguinte, tentei novamente e os mesmos comentários me atormentaram, mas não desisti, já que tia Dulce era a organizadora.

As meninas diziam que minha mãe não iria ter dinheiro para o vestido, diziam que eu não sabia dançar, e diziam que eu as faria passar vergonha. Todas as palavras foram suficientes para que eu desistisse e novamente voltasse aos prantos para casa.

Desenhos de uma SinaOnde histórias criam vida. Descubra agora