Capítulo 43

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Faltando somente três dias para o concurso, meu coração parecia cada vez mais descompassado. As malas outra vez estavam arrumadas, todos os materiais separados, e no sábado de madrugada eu estaria de volta em São Paulo.

Meu futuro dependia daquilo. Eu havia planejado cada mínimo detalhe, separei uma roupa social, formulei falas, estudei até que meus olhos ardessem, peguei folhetos e panfletos de todas as universidades com curso de engenharia, e mostrei todo planejamento para o Sr. Ricardo. Ele ficara orgulhoso, garantiu que eu conseguiria.

Meu plano inicial era conseguir sair de casa. Nunca imaginei trabalhar com arte e assuntos do tipo, mas eu achei uma oportunidade de sair de um lugar que me machucava. Até o dia em que meu chefe destruiu um dos lugares mais importantes para mim, e me deu uma expectativa maior.

O plano já não era passar no concurso, e sim chamar a atenção de alguns coordenadores que estariam presentes no dia, deixar clara a intenção de curso, e conseguir finalmente fazer o que eu queria.

Levi me disse que seu pai estaria lá a trabalho, sua empresa era uma das patrocinadoras do evento. Sr. Ricardo queria que Levi seguisse seus passos, porém ele não levava jeito algum e ainda iria descobrir o que seguir.

Minha mãe compartilhava de minha empolgação e em todas as suas preces, falava sobre o concurso. Por outro lado, meu pai não manifestava qualquer emoção, sua única preocupação era o trabalho e que a frustração dele poderia ser a minha.

O sol naquela quarta feira ardia como brasa. Alguns outros trabalhadores que ficavam nos pomares da fazenda, descansavam sob a sombra das árvores.

—Bento — chamou Sr. Ricardo.

—Sim, senhor.

—Tem carteira de motorista?

—Me habilitei no começo deste ano, tenho a provisória. Confesso que não tenho muita prática por não dirigir.

—Preciso que vá buscar alguns materiais — disse me entregando uma lista e a chave de seu carro.

—Eu vou junto — gritou Dora, descendo a escada da fazenda às pressas. —Papai, Bento pode me dar uma carona? Preciso comprar algumas coisas.

—Você tem uma hora — respondeu virando de costas.

Dora correu animada para o carro, um Ford Ranger Splash preto. Entrei no carro já arrumando o banco e retrovisores, dei partida e em menos de cinco minutos, Dora começara a reclamar da velocidade.

—Pode ir mais rápido?

—Não, e nem era para você estar aqui.

—Preciso contar uma coisa.

—Está enrolando.

—Bem... a Aurora teve uma conversa com a Aline, que o Leo escutou e contou para o Noah e ele me contou.

—Bisbilhoteiro — murmurei.

—Então, Aurora estava conversando casualmente com Aline, entraram no assunto sobre passado, e Aurora começou a fazer suposições de como seriam seus pais. De uma forma inocente, Aline a ajudou, só que as características apontavam quase todas para Eva. Depois Aurora mudou o rumo da conversa e ficou por isso.

—E o que o Noah queria saber?

—Se eu sabia de algo.

—Dora, estamos confiando em você.

—Eu sei, eu não contei nada. Fiquei preocupada caso Aurora soubesse de algo.

—Essa história já está indo longe demais.

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