Capítulo 60

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Como sempre o relógio mostrava-se apressado. Os dias passavam cada vez mais depressa. A manhã da véspera de Natal começara agitada, com minha mãe chegando, meus avós e minha tia.

Ainda estava de pijama fazendo hora na cama, até minha avó entrar empurrando meu avô.

—Acho que você tem bastante coisa para nos contar — disse meu avô com um riso brincalhão.

Realmente, em poucos dias muita coisa aconteceu. Talvez, a melhor delas tenha sido conhecer mais uma vez o homem que tomou meu coração para si, e fazer com que ele encontrasse novamente o menino sapeca que um dia foi.

Bento me mostrou como era seu trabalho, me mostrou os planos que tinha e disse que estava ansioso por uma resposta que, segundo ele, mudaria tudo — o que me assustou bastante.

Colocamos todos os assuntos em dia, nos permitindo conhecer de verdade quem havíamos nos tornado. Tudo parecia certo.

Eva apareceu no quarto com minha tia, e ambas se sentaram em minha cama esperando para que contasse tudo.

No final, meu quarto tomou o lugar da cozinha para o café da manhã, já que todos levaram suas canecas e pães para lá.

Me levantei para ajudar a preparar a ceia, que sempre começava cedo. Deixando tudo pronto para ir ao forno, me arrumei para almoçar com Bento como já era de costume.

Tia Dulce deixava tudo separado. Assim que peguei a sacolas e entrei no prédio comercial, alguns funcionários estavam na recepção fazendo ligações. João estava afoito andando de um lado para o outro. Mais assustador ainda foi ver Dora e seu pai entrando no elevador.

—O que está acontecendo? — perguntei para o João.

—Só estamos nos preparando para o recesso. Fazendo as últimas ligações e deixando tudo pronto.

—E o que mais? — perguntei cruzando os braços.

—Aquela resposta que Bento precisava, eles foram discutir hoje — falou com calma, como se não estivesse ansioso.

O acompanhei andando de um lado para o outro na recepção sem ao menos saber a razão de estar ansiosa. Não durou nem trinta minutos, contudo pareceu uma eternidade. Dora saiu do elevador com um sorriso vitorioso, e seu pai logo atrás dela.

—Oi, sr. Ricardo.

—Aurora! Que bom encontrá-la — disse com um sorriso sincero. —É bom saber que Bento vai ter alguém para mostrar a cidade para ele.

João parou de andar e me encarou com os olhos quase saltando do rosto.

—É melhor vocês almoçarem — respondeu Dora.

O elevador pareceu demorar mais que o normal para chegar. A porta de Bento estava fechada. Abri com delicadeza e o encontrei assinando alguns papeis.

—Acabe logo com esse mistério, por favor.

Ele largou os papéis e correu para me abraçar.

—A nova filial de São Paulo tem um novo sócio.

—Ah meu Deus!

—Pois é, pinguinho. Vai precisar me aguentar tanto aqui, quanto lá.

Bento me abraçou ainda mais forte, distribuindo beijo por todo meu rosto.

Era um pouco assustador tudo o que estava acontecendo. Depois de tanto tempo, tudo parecia se encaixar. Eu tinha conseguido realizar meu sonho e Bento estava tornando-se o que sempre quis. Aquele pequeno filme um tanto quanto "clichê" passava por minha cabeça, lembrando-me de duas crianças que jamais se viam naquele futuro.

Desenhos de uma SinaOnde histórias criam vida. Descubra agora