Pó conceitual sem significado algum...

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Me entristece muito pensar que estamos nos tornando cada vez mais mecanizados. Hoje já temos a indústria das canções e a indústria dos filmes. Logo mais teremos a indústria das personalidades e a indústria das ideologias... se é que já não temos agora, talvez eu esteja levando nosso mundo em muita alta estima. Mas a verdade é que de pouco em pouco se destrói o mistério da vida e se constrói em seu lugar um pó conceitual sem significado algum. Resto eterno do que um dia foi alguma coisa. Vamos de pouco em pouco criando moldes, subindo muros, separando tudo em partes cada vez menores, no intuito de que tudo tenha lógica, e que tudo esteja de acordo, e terminamos restringindo a nós mesmos.

Se se visita uma faculdade de psicologia nestes dias, e se depara com os conselheiros espirituais do amanhã, se percebe que todos são iguais em suas vestes, jeitos, ideias e crenças. Que todos usarão as mesmas abordagens para resolver os mesmos impasses, e todos os futuros deprimidos encontrarão a mesma saída lógica para seus respectivos problemas, que na origem eram na verdade bastante diferentes... Mas é o que funciona, é o que resolve. É o que coloca o cidadão de volta na sociedade! Para voltar a integrar o todo maior, e continuar com a análise eterna de tudo que existe... É como construir um exército de pessoas funcionais e supostamente felizes que recrutam mais pessoas funcionais e supostamente felizes... Todos igualmente sem graça e sem vida.

Sinto que amanhã todos os médicos serão absolutamente iguais. Talvez devessem ser, não é? Todos muito preparados e prontos, extinguindo-se a possibilidade de erro. Médicos são de fato seres humanos que não podem errar. Deveriam ser como máquinas, programadas para agir sempre de acordo com o protocolo mais adequado, buscando sempre o maior benefício com o menor custo. Certo, mas sinto que isso não ficará restrito aos médicos. E se os artistas de amanhã também forem todos iguais? E se os artistas também passarem a ser como máquinas? E se os artistas deixassem também de ser humanos? Se deixassem de errar, e se fossem sempre de acordo com a regra maior? Claro, produzindo uma arte lógica, produtiva, de alto valor, que causasse o melhor impacto no mundo. Sempre em nome do progresso, sempre em nome do bem-estar geral...

Ah, eu devo parecer um maluco dizendo isso... quem sabe eu seja de fato um maluco... Mas tenho que dizer, não suporto essa ideia... Não acredito no bem-estar geral! Não acredito no progresso... Acho que o bem-estar geral não passa de ilusão, não passa de dopamina correndo no seu organismo, não passa de um simples material frente ao todo enorme de ideias... de sentimentos, de espíritos, de vidas! De vidas, realmente! Não estamos aqui com um propósito... não estamos aqui a fim de chegar em algum lugar... esse algum lugar não existe! Estamos aqui simplesmente porque estamos, e deveríamos aproveitar esse privilégio...

A vida não foi feita para ser desvendada, foi feita para ser vivida!

...ou algo assim, não sei... Não sei de nada, realmente. Só sei que me entristece muito...

Meu livreto pretoOnde histórias criam vida. Descubra agora