Frustra-me o espaço entre o armário e a parede.
Joga-se na minha vista,
zomba do meu silêncio,
devora minha atenção.
Frusta-me o espaço entre o armário e a parede.Quero colabá-lo.
Faço força, a fresta resiste:
vai o armário,
volta o armário.
Não posso colabar o espaço entre o armário e a parede.Tento enxergá-lo.
Pego a lanterna, a luz não alcança:
luz por demais fraca,
escuridão por demais forte.
Não posso enxergar o que há no espaço entre o armário e a parede.Penso entulhá-lo.
Madeira, silicone, ou meu convencimento.
Mas é forte a fresta, desperta a fresta...
Resiste a qualquer empreendimento.
Não posso entulhar o espaço entre o armário e a parede...Sento na cama, me ponho a pensar na vida:
quando foi que desencostou o armário da parede?
Em algum momento estiveram juntos, isso é certo.
Em algum momento o sol bateu e ilustrou um perfeito ângulo reto.Mas e agora, o que houve?
O tempo esfriou, o frescor se acabou...
Resta agora poeira, traças, inconsciência,
uma profundo abismo,
uma aguda incoerência...Que hei de fazer com o espaço entre o armário e a parede?
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Meu livreto preto
PoesíaAlgumas reflexões de um jovem dessa geração. Dispostos às vezes como poemas, às vezes em prosa, mas sempre como vieram à mente. Perdido num planeta tão grande, e sentindo o peito apertar de ansiedade, confia às palavras, suas melhores amigas, a inti...