O que mais me encanta na escrita é a possibilidade de se escrever qualquer coisa. Penso que a literatura seja o lugar de maior liberdade para o homem, excluída sua própria mente. Lá se diz grandes filosofias e se urra grandes irracionalidades mantendo, ainda assim, o valor intrínseco de cada um. Quero dizer que na mesma medida que se pode escrever a verdade, também se pode escrever a mentira, que, ao menos por um instante, ela se torna verdade. Na literatura se pode viver tudo que a vida lhe nega em existência, e vivê-lo a tal ponto verdadeiro que ultrapasse, quem sabe, até mesmo a verdade do real. Simplesmente, se vive para sempre.
Aqui, tudo o que se sente e se vê cria vida; vida que não criaria caso fosse apenas sentido e visto, e vida que não se tem por simplesmente existir. Tudo o que se pensa ganha sentido, e valor, por ser expressado de tal maneira pessoal, e ainda assim íntimo ao leitor, que unifique ser pensante e ser existente num único ser, constituído então por palavras. Cria-se a possibilidade de viver e existir ao mesmo tempo. Cria-se a possibilidade de ser. A vida perde o peso inebriante que assola o âmago de nossas consciências, e passamos a viver sem pesos, sem amarras, sem contradições.
O homem pode, enfim, ser livre. O homem pode, enfim, ser completo.
Sem a literatura, sem esses textos sem nexo que escrevo para ninguém, eu estaria para sempre preso na minha própria existência.
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Meu livreto preto
PoesiaAlgumas reflexões de um jovem dessa geração. Dispostos às vezes como poemas, às vezes em prosa, mas sempre como vieram à mente. Perdido num planeta tão grande, e sentindo o peito apertar de ansiedade, confia às palavras, suas melhores amigas, a inti...