Deixe-me esclarecer um segundo ponto: este não é um daqueles textos em que eu coloco a culpa toda no mundo.
E me perdoe por quebrar assim o seu ritmo.
Culpar o mundo seria como esquecer-se de mim mesmo, e esconder-me da minha própria estrutura desequilibrada. Não, antes do mundo, eu deveria era culpar a mim mesmo; e, antes do mundo, eu deveria era mudar a mim mesmo. É aqui que reside realmente o problema, e é por aqui que deve começar a mudança. E não digo mudar por recriar-se, creio, mas mudar por reorganizar-se. O que está feito, está feito, afinal de contas; passou e não volta mais.
Mas talvez possa haver uma perspectiva nova, uma consciência diferente e superior, quem sabe uma visão mais aberta daquilo que é. É esse o ponto chave, eu acho. Há de se entender que eu estou no mundo e que o mundo está em mim, pois detesto aqueles que recusam a realidade, mas também há de se entender que isso tudo se constrói sobre meu próprio equilíbrio individual de ser humano, único e exclusivo quando visto daqui.
Sabe, acho que nos foi dado um dom, e só posso pensar que foi Deus que o fez, o qual nos permite viver toda a experiência do universo, de alguma forma capazes de escapar das prisões pré-estabelecidas de nossas mentes animais, e assim viver a vida realmente. Talvez seja isso que eu busco. Requer, é claro, e contudo, um equilíbrio perfeito entre o que sou e o que gostaria de ser. Entre o que carregamos no corpo e o que somos na alma.
Estruturas incompatíveis, provavelmente. Mas, e daí? O que é o ser humano se não contradição? O que é que somos se não uma enorme batalha de conceitos ambulante?
Suponho que seja isso que nos sobra: essa infinita gama de conflitos internos, que se parecem tão absurdamente com os conflitos externos, aqueles do mundo. Ficaremos para sempre cuspindo tensão no mundo exterior, e ele nos devolvendo na mesma medida.
E, por isso... antes dele, eu.
Bem, mas, dito isso, acredito que agora não precisarei de terceiro ponto: daqui para frente, verá apenas estes conflitos serem expostos da minha maneira, buscando infinitamente o suposto equilíbrio mútuo das minhas partes.
Apenas devaneios insensatos de uma mente humana, pura e simplesmente humana.
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Meu livreto preto
PoetryAlgumas reflexões de um jovem dessa geração. Dispostos às vezes como poemas, às vezes em prosa, mas sempre como vieram à mente. Perdido num planeta tão grande, e sentindo o peito apertar de ansiedade, confia às palavras, suas melhores amigas, a inti...