Ah, sim... ela sim...

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A verdade é que nunca tive meu coração partido. Desilusões, já tive, é evidente. Temos uma delas a cada esquina de nossas vidas. Mas um verdadeiro coração partido? Acho que não. Talvez já tenha partido alguns corações, eu acho. Penso nisso. Dá para perceber os cacos deixados pelo caminho quando isso acontece. Fico imaginando se algum dia verei os meus próprios cacos pelo chão. Não será uma vista bonita, certamente não será. Mas talvez seja verdadeira o suficiente para me fazer sentir vivo, e presente no mundo. O sofrimento parece ter ao menos essa qualidade...

Não, mas não me entenda mal, não quero ter meu coração partido. É só que quando penso naquela garota... não sei bem, me vem um sentimento diferente. Sabe, a tive. Por um momento breve, mas a tive. Daqueles jeitos jovens e desleixados de se ter uma pessoa, mas tive. E quando tive, me senti no topo do mundo. Senti como se o jogo pudesse terminar ali mesmo, que eu estaria satisfeito com minha jornada. Mas o momento passou, é a verdade, e ela desapareceu. Sumiu, realmente, nem deixou rastros. Não me responde, não me vê, não se importa... Para ela, foi apenas mais uma noite, eu suponho. Sumiu para nunca mais voltar. Não vejo seus rastros, mas vejo talvez os meus...

Ah, sim... ela, sim. Ela absolutamente quebraria meu coração. O destruiria a tal ponto irreparável que chocaria desde Lord Byron a toda Medicina. Não quebrou, mas quebraria. Talvez seja por isso que Deus a tirou do meu caminho tão rapidamente quanto colocou: mais algumas horas em sua presença, e minha vida nunca mais voltaria a ser a mesma.

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