Não quero ser enterrado de terno.
Céus, passei minha vida inteira de terno! Que a morte me conceda ao menos isso: roupas confortáveis. Quero chegar no submundo de pijamas. Longos e grossos pijamas. Pantufas, toca e um cobertor de lã. Quem sabe, escutando o chuvisco batendo no solo do cômodo de cima. Talvez, dessa maneira, o frio cortante da eternidade seja até um tanto agradável.
De uma coisa estou certo, contudo: não estou indo para lá a trabalho! Me esclareceram enfaticamente que era uma passagem só de ida. Não teria concedido, caso fossem outros os termos acordados. Voltar a conviver com os vivos depois de morto requer demasiado autocontrole, digno apenas, talvez, dos primogênitos do Senhor.
Ora, se não vou a trabalho, me parece que a explicação restante e natural para o propósito de minha viagem é única: recesso. Realmente espera que passe minhas férias de terno, leitor? Melhor esperar sentado, amigo.
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Meu livreto preto
PuisiAlgumas reflexões de um jovem dessa geração. Dispostos às vezes como poemas, às vezes em prosa, mas sempre como vieram à mente. Perdido num planeta tão grande, e sentindo o peito apertar de ansiedade, confia às palavras, suas melhores amigas, a inti...