Feridas abertas só fecham com...

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Sal?
Paciência?
Tempo?

Não, nada disso. Compreender o que dói e porque dói ajuda, mas não faz parar de sangrar.

O amor nunca morre. Ele esfria, resguarda-se em um canto gelado do peito que nunca mais irá ser aceso.

Ou melhor, que será deixado ao acaso. Ao relento. Como se nunca houvesse existido antes não é?

Sim. Como se jamais tivesse nascido ele morre, ele morre até que suas memórias mais íntimas renasça das cinzas como uma fênix enfurecida.

O amor em questão não se trata de romance. Se trata da sensação de ter amado alguém, em algum ponto da vida.

De pessoas que conviviam e agora não passam de meros estranhos ou melhor que nunca te conheceram de fato mas conviviam como se conhecessem. Assim como a areia passa através das mãos assim também escorre o bem querer.

Por isso eu sou uma grande mentirosa, me faço acreditar na minhas próprias mentiras e essas são :

Eu não ligo.

Isso não me machuca.

Não dói mais.

Eu não sinto nada.

Nada dói mais que a sensação de ter que abafar o sentimento de amor. Como uma mordaça coberta de agulhas, aonde falar dói e se calar também dói.

É uma piada, dizemos as crianças que elas devem contar tudo para os adultos. E quando adultos devemos calar a boca e engolir a porra do choro...Afinal, você não é mais uma criança é?

Eu sinto falta daquilo que nunca vai me acontecer. Não tem sentido em palavras, só faz sentido em mim, de mim e pra mim.

Minha criança interna, que aqui dentro mora ainda sangra. Ela não é forte, nunca quis ser forte e nunca quis lutar.

Ela não foi feita pra ser forte, não foi feita pra ser guerreira mas sim pra ser amada, feita para o amor, feita para ser acolhida em um abraço e poder finalmente derrubar todas as muralhas que se impôs.

As muralhas que acabam voltando, porque a ferida que por mais que esteja sendo tratada ainda dói.

Álcool, sal, limão, remédio. Nada sara, nada cura, nada fecha. Por mais que se tente, existem coisas que sempre irão machucar, como uma agulha no meio das roupas.

Por isso as muralhas. Vamos se faça de forte mais uma vez. Até onde esse teatro de fantoches vai? Até onde você consegue fingir que nunca sentiu, ou que não sente mais? Veremos.

Que tal assim? Afunde-se nas paredes de um castelo que foi feito para desabar.

Já que muralhas são feitas para serem quebradas, e se você se foi, é pra deixar ir.

Construa, destrua, e evolua. Ou melhor, esqueça. Esqueça da mágoa, da dor e melhor ainda seja engolida pela raiva, a mesma raiva que te trouxe a força pra criar as barreiras, aquela raiva que te promete como um pacto de vingança a melhora.

Ande. Estoure. Queime e exploda, afinal é quem você é. É quem você está destinada a ser, pegue fogo, seja ardente em suas emoções porque num mundo aonde lágrimas são uma chuva de terça qualquer, a erupção é a mais honesta das reações.

Exclame,reclame,exploda mas nunca imploda. Afinal, o que mais você pode perder?

Um arranhão a mais ou um arranhão a menos não faz diferença pra quem sangrou tanto. Até porque feridas diferentes tem proporções diferentes, porém todas sangram de igual pra igual.

Por isso agora mordo, mas mordo pra arrancar pedaço, mordo com ira. Não me toque, eu mordo, eu faço sangrar, eu corto, faço feridas, machuco e infecciono.

Acredite, você não deve se aproximar de mim ou arrancarei pedaço por pedaço teu. Vou te marcar, te morder, te despedaçar, mas nunca matar.

Eu mordo, grito, explodo. Mas nunca o suficiente pra ir embora. Remédio pra isso não há.

Porque um cão, sempre será um cão. Uma ave sempre será uma ave.
E eu sempre serei uma tola.

Uma grandiosa tola.
Que acredita em palavras bonitas e reconfortantes.

Se não for verdade melhor ainda, quanto mais idealista for maos acreditarei.

Quanto maior a utopia maior o sonho não é?

Maior o sonho, maior o vôo, maior a queda.

Vivo em queda.

Em queda livre, aonde você olha para o chão e vê ele vindo em alta velocidade.
Cada vez mais perto de teu corpo.

Cair, tão perto até sentir o asfalto quente perto. Mas não de fato cair.

Até porque se jogar e cair são coisas diferentes.

Já me joguei de diversas alturas, mas caí de lugares mais baixos que pareciam mais altos dos que me joguei.

Todos estes, os caídos, sempre me pareceram piores. Arredios. Sem explosões de grande porte, somente a queda.

Mas as vezes, a vida é feita de quedas.

Portanto, procuro sarar. Já aceitei as quedas, agora somente por mim mesma pode ser ministrado o remédio, que nunca é paliativo.

Porque paliativo não dói, e a única forma desse remédio funcionar de fato é a dor.

A dor as vezes serve de conselho e de conserto. Mas que pra mim sirva de conforto, que nela encontre meu objetivo, meu abrigo e meus acertos.

Que a dor seja minha eterna escrava. E ela só ela saberá então dos meus segredos, pensamentos e discernimentos.

Palavras aleatórias de uma mente pulsante aleatória(0-20)Onde histórias criam vida. Descubra agora