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pov: narrador

Encontrar a casa em completo silêncio não chegou perto de nenhuma das mil maneiras em que Sarah pensou que seria recebida. Mas quando sua mente encaminhou um alerta para o seu coração de que aquilo não era um bom sinal, Sarah sentiu o peito apertar de uma maneira avassaladora. Era desesperador olhar em volta e não encontrar sua esposa, o medo de que ela tivesse ido embora já era angustiante o bastante, pensar que ela foi embora sem sequer dar a ela o benefício da dúvida, era um grande tormento.

A loira procurou pelo aparelho telefone em sua bolsa, mas só se deu conta de que o deixou no carro quando quase todos os seus pertences já estavam espalhados sobre a mesinha de centro da sala de estar da sua casa.

— Que algazarra é essa aqui? — Disse Juliette, entre os dentes, descendo os degraus da escada, com a filha do casal nos braços.

Lua mantinha sua cabeça deitada sobre o ombro esquerdo da mãe, o rosto amassado revelava que foi acordada a pouco tempo de uma soneca muito relaxante, mas que não estava disposta a despertar de vez. A delicada mão de Juliette repousava sobre as costas de sua filha, e seus lábios se fechavam em um pequeno bico que era usado para fazer o som de um chiado, na tentativa de ninar Lua novamente.

Os olhos de Sarah ganharam um novo tom, talvez fossem de esperança, por vê-la em sua frente.

— Você quer quebrar a casa inteira ou apenas acabar com os quase vinte minutos em que estou tentando fazer ela voltar a dormir? — O nervosismo de Sarah não a deixava conseguir sequer decifrar a voz e o semblante da mulher que tanto ama.

— Des-desculpa. — A forma como o pedido saiu dos lábios de Sarah, fizeram a própria questionar sobre o que, de fato, estava se desculpando, mas sentia muito por toda a obra do acaso.

A loira observou atentamente quando Juliette deitou cautelosamente Lua no carrinho, e usou o auxílio do pé para sacudi-lo e nina-la quando a pequena passou a se remexer dentro do objeto.

— Ela ficou exausta depois do pique de energia que teve hoje de manhã. — A morena comentou, sem tirar os olhos de sua miniatura, que aos poucos foi se acostumando com o conforto do carrinho. — Mas começou a chegar muitas notificações no meu celular, e ela acabou acordando. — As íris escuras finalmente se encontraram com as iris esverdeadas, não sabia mais o que era imaginação ou o que era realidade, mas Sarah sentiu um olhar aguçado vindo de sua esposa, e não conseguir desvendar, a estava matando. — Mas acho que agora ela finalmente dormiu. — Aos poucos, Juliette foi cessando os movimentos dos membros inferiores do seu corpo, que estavam sendo utilizados para ninar sua filha, e sentou-se toda esparramada no sofá, se sentindo completamente tomada pelo cansaço. — Então foi esse o motivo de você ter chegado cedo e bastante alterada em casa? — Quis saber, se referindo ao motivo das infinitas notificações em seu celular.

— Eu queria saber o que você está achando de tudo isso.

— Porque não me atendeu quando eu liguei pra você? — Juliette questionou a esposa, que mais uma vez esqueceu que tinha deixado o aparelho celular no carro, e tornou a procurá-lo pelo sofá, onde estava sentada.

— Você me ligou? — A loira perguntou, pois na agitação em tentar ligar para sua esposa, nem sequer reparou nas notificações, que por sinal eram muitas, e logo lembrou-se que Angela as obrigava a pôr o celular em modo avião durante as reuniões. — A Ângela..

— Fez você colocar em modo avião. — Juliette complementou a frase da loira, sem nenhuma reação aparente.

— Sim, desculpas. — As mãos pálidas de Sarah ainda tremiam, e ela tentava esconder seu nervosismo, pois o clima da conversa ainda era desconhecido. — E o que você tá pensando sobre tudo isso?

Mais uma vez, os olhos castanhos se perderam na imensidão verde por tempo demais, por mais intimidador que fosse não saber o que a morena pensava, dava um certo conforto à Sarah, ter suas iris preferidas voltadas apenas pra si.

— Eu acho que é super inoportuno você acordar uma mãe que acabou de tirar um cochilo pra falar uma grande baboseira. — Respondeu Juliette. — Eu liguei várias vezes pra você, pra Monique e até pra Angela, pra tentar alertar vocês do que viria, mas caia direto na caixa postal. — A morena esticou a mão para que a loira segurasse. — Eu confio em você, Sarah!

Sarah sentiu o peso das palavras de sua esposa atingi-la em cheio, e não conseguiu sequer segurar na mão de sua amada. Sabia o quanto confiar em alguém era precioso, e perder isso, seria o início da perda de todo o resto.

— Não é totalmente mentira. — A voz rouca saiu por um fio, como se estivesse tomando coragem pra prosseguir com todo o resto. — Eu.. e-eu realmente errei, Ju. — O tom triste e desapontado consigo mesma estava presente em sua voz. Suas palavras fisgaram o coração de sua amada em uma pontada seguida e um aperto. — Me desculpa. — Sentiu os olhos pesarem pela presença de lágrimas.

— Como é? Do que você tá falando, Sarah? — Sentou-se rapidamente de maneira formal, fingindo-se de pronta para ouvir as duras palavras que parecia que ouviria.

— Eu conheci a Alicia no dia do restaurante, lá em Angra. — A loira havia desenvolvido uma breve mania em deslizar seu polegar esquerdo sobre seus dedos direitos, na tentativa de acalma-los da tremedeira. — Ela disse que era muito minha fã, perguntou de você, da Lua e disse que queria muito tirar uma foto comigo, mas que tava em horário de trabalho e não estava com o celular, e insistiu pra eu enviar a foto pra ela..

— Não enrola, Sarah. — A morena pediu apressada pra saber o desenrolar da história. — Vá direto ao ponto, o que de fato rolou?

— Não rolou nada! — A loira se defendeu. — Eu errei em ter passado meu número pra ela, e ter acreditado e confiado que ela era apenas uma fã, e por certa forma, ter dado pretexto pra que vinculassem o nosso casamento com esse tipo absurdo de fofoca.

— você mais do que qualquer um sabe que comigo não tem show, e nem baile, eu simplesmente não falo mais com você, e você morre pra mim. — A morena disse firmemente.

— Eu jamais faria qualquer coisa que pudesse respingar de forma negativa sobre você, a Lua, ou sobre nós duas.

— Eu ainda não tive coragem de olhar as redes sociais. — Juliette comentou baixo, com vergonha de expor sua vulnerabilidade.

— Eu também não parei pra ler nada concreto ainda, eu só queria te encontrar e esclarecer as coisas.

— E porque diabos você passou o seu número pra ela, Sarah? — Apesar de usar um tom baixo, devido a soneca de Lua, a morena havia firmado o tom, e fixado o olhar nas iris esverdeadas, demonstrando irritação com o ato irracional da esposa.

— Ela se apresentou como uma fã, eu não imaginei que ela era uma louca vigarista.

— Você deveria saber que a louca sou eu. — Disse, encarando a esposa nos olhos.

Sariette - Paixão de RealityOnde histórias criam vida. Descubra agora