Capítulo 3

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        Kiran pula para cima do balcão e fica em posição de ataque com as orelhas coladas no crânio, o pelo do pescoço completamente arrepiado, os lábios retraídos com os dentes expostos e rosnando alto. Nunca o tinha visto assim.

          Ele desce para o chão e se aproxima de Vane, devagar e cada vez rosnando mais alto. Vane fica completamente de frente para ele, nunca desviando o olhar.

          — Você não precisa me atacar — Ele diz lentamente enquanto dá um pequeno passo em direção a Kiran.

          Kiran continua se aproximando e começa a farejar o ar, as narinas se inflando totalmente, e então o que eu menos esperava acontece, ele começa a relaxar. Quando está próximo o suficiente de Vane, ele senta nas patas traseiras e late alto. Me afasto do balcão e fico na frente para ele.

          — Como assim você não vai mais atacar ele? — pergunto indignada — Você tinha que me proteger ou ir se esconder para salvar a própria vida.

          — Au.

          — Ele é perigoso sim! — Aponto para Vane que se aproximou do meu lado — Olha só para ele! Parece alguém que me comeria no café da manhã se pudesse.

          — Não dessa forma que você está imaginando — Vane fala tão baixo que acredito não ter escutado direito.

          Kiran solta uma série de latidos e bufos.

          — Deixa eu ver se estou entendendo direito. Você, em questão de dez segundos, deduziu que esse psicopata não apresenta risco para a vida de ninguém? — pergunto e Kiran late e bate a pata dianteira no chão — Ok, ok, não apresenta risco para a minha vida. É sério? Eu te contei que ele está me perseguindo há dois anos, como você pode considerar ele inofensivo só o farejando? Será que não se confundiu com os cheiros? Pode ser o cheiro de alguém que ele matou antes de vir para cá sabia disso?

          Kiran late alto novamente, se levanta e para na frente de Vane, coloca uma pata em cima de sua bota e olha para ele. Vane se inclina e afaga sua cabeça, achando toda essa cena engraçada.

          — Traidor — falo completamente chocada e me sentindo traída — Não vai dormir na minha cama essa semana.

          Kiran chora e vem até mim.

          — Não adianta lamentar, você foi para o lado do inimigo — Viro as costas para ele.

          — Ou talvez ele saiba que eu não sou tão mal assim contigo — escuto Vane murmurar no meu ouvido.

          Dou um pulo e me viro em sua direção. Ele está perto, muito perto de mim nesse momento, então se inclina até que ficamos cara a cara.

          — Bruxinha, se não me falha a memória, você está me devendo 80 moedas de ouro.

          — OITENTA!? — grito — Eram só 75.

          — Como os banqueiros falam "são os juros e correções".

          — Eu... eu não tenho tudo isso.

          — Ah, então as 75 você tem? — ele pergunta com ironia — Se me pagar agora eu sumo da sua vida para sempre.

          — Eu também não disse que tinha as 75 — respondo.

          — Vamos fazer um acordo. Eu mantenho sua dívida comigo em 75 se voc...

          — SIM! — o interrompo.

Entre Mares e FeitiçosOnde histórias criam vida. Descubra agora