Capítulo 5.2

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Não demoramos a encontrar Cordélia no deque ao lado de Vane, próximos ao timão. Eles percebem que nos aproximamos e param de conversar entre si. Cordélia fecha a cara e Vane nos olha com curiosidade.

- Capitão. Cordélia - Zion os cumprimenta.

- O que você quer? Não deveria estar limpando o convés? - Cordélia pergunta com rispidez.

- E...eu tinha levado a Lys para tomar café - ele responde - Ela não sabia dos horários e também não conhece o lugar. Achei que não seria inteligente deixar a nova curandeira morrer de fome.

Os olhos de Cordélia brilham com fúria por um breve instante, afinal, sem perceber, Zion a chamou de burra. Finjo tossir para esconder o riso.

- Fez bem, marujo - Vane responde - Percebo que já estão se tratando por apelidos carinhosos.

- Ah... bom... é que ela é legal sabe, não se incomodou com a minha mania de encher as pesssoas de perguntas.

- Eu nunca disse isso - murmuro.

Zion olha para mim com a boca aberta e um olhar desolado de quem foi traído.

- Mas não me incomodei - me apresso a responder - É bom falar com pessoas novas.

Ele abre um grande sorriso com isso.

- O que vocês querem? - pergunta Cordélia em um tom impaciente.

- Quero saber se tem algo que eu possa fazer - respondo - Não espera que eu fique enfurnada naquele quarto o dia inteiro até que alguém precise de mim, não é?

- Na verdade espero si...

- Claro que não - Vane responde, interrompendo-a - Estava pensando que, mesmo que você não participe ativamente dos saques e batalha, precisa aprender a lutar para defender a si mesma.

- Ah, certo - não esperava por isso - E quem vai me ensinar?

- Rique. Ele é um bom lutador e um bom professor, saberá como te ensinar sem que você afunde o navio - ele responde - Zion, chame-o até aqui.

Zion saí rapidamente, deixando somente nós três e o silencio constrangedor que se instaura. Kiran parece alheio a tudo enquanto explora o convés do navio.

- É bom aquele vira-lata não fazer as necessidades em qualquer lugar - Cordélia diz - Não gostaria de pisar em cocô de cachorro enquanto estiver trabalhando.

- Não se preocupe com isso. Kiran é um cachorro muito bem educado. Diferente de algumas pessoas - falo a última parte bem baixinho

- O que disse? - ela pergunta.

- Que ele é um cachorro muito educado - repito.

- Não brinque comigo, bruxa, eu escutei o que você disse.

- Então por que perguntou?

- Ora sua... - Cordélia se avança em minha direção com a mão indo em direção a adaga presa em sua cintura.

Recuo rapidamente. É tão fácil esquecer o medo que essa mulher me causa quando estou cercada de outras pessoas. Talvez eu não o esqueça e sim a minha coragem tola tenta se impor, mas ela raramente dura muito.

Vane segura o pulso de Cordélia para pará-la.

- Chega - diz - Já perdemos um curandeiro, não podemos nos dar ao luxo de matar outro.

Nunca fiquei tão feliz por ter seguido uma profissão a força.

- Eu não vou permitir que ela me desrespeite - ela fala com os dentes cerrados.

Entre Mares e FeitiçosOnde histórias criam vida. Descubra agora