Capítulo 4.1

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Sento-me rapidamente e encaro Vane, completamente incrédula.

— Vo-você quer que eu entre para a sua tripulação?

— Sim — Ele senta e apoia os cotovelos nos joelhos — Deve ter escutado que durante a meu último ataque eu acabei perdendo um tripulante.

Vejo sua expressão escurecer e só aceno com a cabeça em resposta.

— O homem que mataram era o Gabe, um feiticeiro que trabalhava como curandeiro no navio. Agora que ele se foi estamos sem ninguém e como você tem que me pagar de alguma forma...

— Quer que eu seja a nova curandeira a bordo.

Essa oportunidade era ouro. Um ano de trabalho e então não estaria mais presa a ele. Sem mais dívidas, sem precisar economizar dinheiro e principalmente, seria livre.

Depois de pensar com cuidado por alguns segundos decido dar minha resposta mais óbvia.

— Não aceito.

Acredito que Vane pensava que iria aceitar sem pensar duas vezes, pois ele se ajeita e me olha estupefato.

— Não aceita?

Veja bem, sei que é maluquice minha não aceitar, mas eu já estive naquele navio por três meses, aquele navio assombra meus sonhos há dois anos. Só em pensar em ficar naquele lugar por um ano já me causa arrepios. Sem falar que teria que aguentar a Cordélia por todo esse tempo e ela garantiria que minha estadia fosse o perfeito inferno.

Além do mais, a tripulação de Vane é formada por pessoas da pior espécie possível. Assassinos e ladrões devem ser os níveis mais baixos daquelas pessoas. E por fim tem o Vane, um assassino psicopata que está deixando minha cabeça completamente confusa desde que chegou.

— Olha, não é que eu não queira aceitar é só que... — respiro fundo — eu acho que não vou me adaptar ao pessoal.

—Tá com medo, Bruxinha?

— Sim - respondo de imediato — Vane, eu posso te garantir que não tem uma única alma no seu navio que goste de mim, a Cordélia já deixou isso bem claro.

— Eles não precisam gostar de você para que você trabalhe no navio — Ele se inclina para trás e apoia as mãos na cama — Só eu preciso gostar, afinal o navio é meu.

— E gosta? — pergunto em voz baixa.

— Eu estou aqui e não te matei e nem te torturei. No mundo dos piratas isso significa alguma coisa.

Vane suspira e então se levanta.

— Vamos fazer o seguinte. Você tem até segunda de noite para me responder — Ele começa a retirar a camisa — Até lá pensa com carinho porque eu não ofereço essa oportunidade pra qualquer um.

— Está fazendo o que? — pergunto.

— Não vou dormir com roupas desconfortáveis — Ele responde enquanto suas mãos passam a desamarrar as cordas da calça.

— Então coloque um pijama. Não é respeitável você dormir seminu na minha casa e além do mais... — perco a voz quando olho seu corpo exposto. Ele é um daqueles caras que tem músculos na medida certa, grandes o suficiente para causar respeito, mas pequenos o bastante para que não pareça que estão prestes a estourar. Há diversas pequenas cicatrizes espalhadas por todo o tronco e percebo também que ele tem algumas tatuagens — É uma tatuagem ahaí?

Entre Mares e FeitiçosOnde histórias criam vida. Descubra agora