— Por que você está chorando? — ele pergunta.
— Porque me chamaram de monstro de gelo — Respondo enxugando as lágrimas.
— E qual o problema? Monstros são muito mais legais.
— Não são!
— São sim! Você é a pessoa mais legal que eu conheço e se te consideram um monstro, então quer dizer que monstros são legais.
— Isso não faz sentido — rio.
— Talvez, mas você está feliz de novo — Ele segura minha mão — Agora vamos para a montanha, quero descer de trenó de novo.
Quando acordo eu só tenho certeza de três coisas.
1 – Está muito claro;
2 – Estou em uma cama muito espaçosa;
3 – Isso não foi só um sonho muito estranho.
Abro os olhos e observo o ambiente ao meu redor. Estou na cama de Vane, mas ele não está aqui, Kiran está dormindo com o corpo inteiro deitado nas minhas pernas e eu em algum momento da noite me movi até o meio da cama e tomei conta de todo o lençol.
— Que horas são, hein? — pergunto a mim mesma. Minha voz saí arranhada e a dor se espalha por toda a minha garganta
— Quase sete e meia — Vane responde.
Olho rapidamente em sua direção, ele está escorado no batente da porta do banheiro com os braços cruzado e não usando nada além de uma toalha branca ao redor da cintura. Seus cabelos estão úmidos e caem sobre a testa, algumas gotas de água escapam dos fios e descem pelo seu pescoço, em direção ao seu peito e não consigo deter meus olhos de descerem só mais um pouquinho.
Eu nunca me interessei sexualmente pelo corpo das pessoas. Nunca. Não era igual as garotas da minha antiga cidade que diziam que ficavam excitadas quando viam os garotos nadando no lago, eles tinham um corpo bonito, sim, mas ficar excitada? Não. Na minha primeira vez eu pensei que finalmente saberia o que era sentir o corpo "pegar fogo" ao ver um cara pelado, mas para o meu desgosto eu não senti nada. Achei que estivesse quebrada, que provavelmente eu não sentisse nada por causa do meu dom e que talvez todas as bruxas do Frio eram assim, frígidas.
Mas com Vane eu me sinto diferente. A cada dia que ele aparece nos meus treinos eu sinto meu peito esquentar por cada elogio pronunciado, quando ele decide ir até meu quarto só para saber como foi meu dia, eu tenho que esconder o sorriso que começa a se formar em meus lábios e agora, cada vez que ele faz comentários sugestivos, eu tenho que controlar aquele calorzinho que surge na minha barriga.
Me pego pensando com uma certa frequência ultimamente qual seria a sensação de passar os dedos pela sua pele bronzeada e tatuada, mas logo me xingo mentalmente porque algo assim não poderia acontecer, jamais.
"Você sabe o que aconteceu com o Peter, você se apegou demais e saiu machucada", a voz da razão fala na minha mente.
— Se você continuar me olhando assim eu não vou responder pelos meus atos — Ele diz enquanto abre um sorriso de lado.
Desvio o olhar no mesmo instante e escuto sua risada.
— Ai, ai, Bruxinha, o que eu vou fazer com você? — pergunta.
Decido ignorar a sua pergunta e fico em silêncio. Ainda sinto o resto do sono no canto dos meus olhos, mas sei que não posso voltar a dormir. Consigo escutar ele se vestindo, porém em nenhum momento meu olhar se desvia da pequena rachadura na madeira do teto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Mares e Feitiços
RomanceLyssandra é uma bruxa do Frio que está presa à cidade de Perterin por causa de sua dívida com Vane, o temido capitão do navio Kanramarur. Essa dívida aumenta toda vez que ele vem à cidade e Lysandra se vê sem saída. Porém tudo muda quando Vane ofere...