Volto correndo para casa, subo os degraus de dois em dois e abro a porta com força, assustando o Kiran que estava dormindo de barriga para cima no meio da minha cama.
— Kiran, temos problemas!
— Au?
— Não, muito pior - Fecho a porta e vou até ele - Vane! Ele chegou uma semana adiantado, o que esse cara tá pensando? Kiran, a gente não tem o dinheiro dele ainda, na verdade não tem nem um décimo da quantia que estamos devendo.
— AU!
— Ah não rapaz, se eu devo dinheiro então, você também deve. Cadê a nossa parceria aqui? - Aponto um dedo para a cara dele e ele abaixa as orelhas e lambe meu dedo como se pedisse desculpas - Olha só Kiran, você ainda não conheceu o Vane, mas ele é um pirata muito, muito mal e muito, muito cruel. Ele tem olhos de predador, um sorriso que faz qualquer um se borrar nas calças e é tão grande que consegue tapar o sol. Onde ele vai as sombras o acompanham. Se você o vir é para ir se esconder, está me ouvindo? Não gosto nem de pensar sobre o que ele faria com uma coisinha fofa feito você — Seguro seu rosto com ambas as mãos e o encho de beijos antes de me afastar.
Tiro as roupas que usei de noite e me jogo na cama somente de roupa íntima, Kiran fica deitado aos pés da cama em cima da coberta. Tento me acalmar sabendo que não há nada que eu possa fazer no momento e que eu poderia aproveitar mais umas duas horas de sono antes do meu inferno começar. Mas não importa o que eu tente o sono não chega e o que me atormenta mais é o fato da marca esquentar periodicamente, aquele bastardo está brincando comigo.
Após algum tempo rolando de um lado para o outro na cama desisto de tentar dormir e me levanto novamente. Olho para Kiran deitado e decido perguntar.
— Quer dar uma volta? — Nem termino de falar e ele já se levanta e corre até a porta — Só um momento, apressado, eu preciso colocar uma roupa antes.
Vou até o banheiro jogar um pouco de água fria na cara e dou uma olhada no meu reflexo. Meus cabelos recém tingidos de castanhos estão arrepiados e bagunçados, tenho olheiras embaixo dos olhos por causa da noite mal dormida e meu rosto inteiro é uma máscara perfeita da exaustão. Escovo os dentes e dou um jeito no cabelo, prendendo-o em um rabo de cavalo, então caminho até o baú que fica aos pés da cama e pego uma saia marrom escura com algumas flores brancas bordadas, uma blusa de mangas compridas e um pouco folgadas e meu colete bege.
Ando até a porta e calço minhas botas de salto baixo, pois como a saia é um pouco comprida é preciso um salto para que ela não se arraste no chão, e pego minha capa verde musgo. Nesse momento Kiran já está fazendo seu showzinho por causa do meu atraso.
— Pode parar de chorar, já estou pronta — Abro a porta e ele desce as escadas correndo — Eu nem demorei tanto assim.
Desço as escadas e abro a porta para sairmos. É incrível que em tão pouco tempo a movimentação na rua já aumentou consideravelmente. Eu e Kiran vamos em direção oposta ao porto, tendo como objetivo os arredores da cidade. O boticário não fica na zona central de Perterin, e sim mais próxima a área residencial, Merlin disse que escolheu essa localização para que ficasse mais conveniente para os pacientes.
— Pessoas doentes não podem ficar andando muito até conseguirem ajuda, Geada — ele diz enquanto come uvas atrás do balcão — Por isso ficamos próximos deles.
-— Até posso concordar com essa sua linha de pensamento, porém ainda acho que é uma ideia ruim, se estivéssemos mais perto do Mercado as pessoas comprariam mais — respondo — E pare de me chamar de Geada, eu tenho nome.
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Entre Mares e Feitiços
Storie d'amoreLyssandra é uma bruxa do Frio que está presa à cidade de Perterin por causa de sua dívida com Vane, o temido capitão do navio Kanramarur. Essa dívida aumenta toda vez que ele vem à cidade e Lysandra se vê sem saída. Porém tudo muda quando Vane ofere...